O
Estudo Problematizador é uma metodologia de estudo baseada em noções do
construtivismo pedagógico. Como metodologia, entende-se um conjunto de métodos,
técnicas, procedimentos ou atividades selecionadas e organizadas para atingir
um determinado objetivo. Enquanto o ensino tradicional é centrado na figura do
professor e no seu saber, onde o aluno é um mero “receptor” de informações, a
problematização estimula e desenvolve nos alunos atitudes críticas, o que
requer um preparo especial desse professor.
Fácil é presumir-se
que a adoção dessa metodologia no meio espírita encontrará sérias resistências
face à postura de pregação e de doutrinação usuais entre os que divulgam o
espiritismo. Os grupos de estudos que a adotam fogem do modelo de
sistematização tradicionalmente implementado para o ensino do
Espiritismo, onde a preocupação do coordenador é “transmitir” o conhecimento.
Essa metodologia da
problematização, segundo Juan Diaz Bordenave, Consultor Internacional em
Comunicação e Educação, “partilha com outros métodos construtivistas alguns
princípios fundamentais, tais como:
·
Parte-se da realidade, com a finalidade de compreendê-la e de construir
conhecimento capaz de transformá-la;
·
Utiliza-se o que já se sabe sobre a realidade (conteúdos), não como algo
absoluto e definitivo nem como um fim em si mesmo, mas como subsídio para
encontrar novas relações, novas “verdades”, novas soluções;
·
Os protagonistas da aprendizagem são os próprios aprendentes. Por isso
acentua-se a descoberta, a participação na ação grupal, a autonomia e a iniciativa;
·
Desenvolve-se a capacidade de perguntar, consultar, experimentar,
avaliar, características da consciência crítica.”
A maiêutica, de Sócrates, é
precursora da metodologia da problematização.
Jesus, também, ao empregar parábolas e fazer
perguntas aos seus ouvintes, empregava a problematização como forma de
ministrar seus ensinos.
O estudo
problematizador tem por finalidade o aprofundamento do conhecimento espírita –
não só a sua “transmissão” -, bem como a produção de cultura, retirando os
integrantes dos grupos do papel de meros expectadores e tornando-os produtores
de conhecimento. Fundamenta-se em princípios tais como unidade entre
experiência (mundo vivido, prática de vida) e ciência, visão dinâmica da
verdade (transitoriedade) e unidade entre razão (conhecimento racional,
estabelecido) não-razão (sensibilidade, afeto, intuição).
No estudo
problematizador, os conteúdos não são colocados como verdades pré-estabelecidas
nem acabadas e o coordenador não é um depositário de saber que simplesmente
deve transmitir as informações. Trata-se de questionar, investigar, reelaborar
as informações recebidas, problematizar, enfim, numa postura condizente com a
própria natureza da Doutrina Espírita - dinâmica e progressista.
Para tal, a
metodologia do estudo problematizador fundamenta-se, primeiramente, no que
chamamos de tomada de consciência que é o ato pelo qual o sujeito se apodera de
forma intelectual de um dado da experiência ou de seu próprio conteúdo e, ao
mesmo tempo, é apoderado afetivamente por esta mesma realidade. Em segundo
lugar, baseia-se no diálogo, em uma concepção de grupo enquanto um espaço de
encontro de diferenças (que são respeitadas), onde os sujeitos se afetam
mutuamente. Finalmente, vê o papel do coordenador como processualidade (em
constante construção), podendo ser seu próprio saber criticado e questionado.
Nesse sentido, o coordenador atua como um provocador, devendo fomentar o
questionamento, a problematização entre os participantes.
No
Estudo Problematizador não há a preocupação com o "vencer conteúdos".
O programa vai sendo paulatinamente elaborado e cumprido com e pelo grupo, com
flexibilidade, corrigido e aprofundado, a partir dos seus interesses e
necessidades, com intenso envolvimento dos seus membros. Aqui é fundamental que
o coordenador estimule o grupo a refletir, que não responda às dúvidas, mas que
ajude o grupo a saná-las, promovendo o crescimento do mesmo, o de seus membros
e crescendo junto.
O saber acumulado
(conhecimento construído por outrem contido nos livros) não é considerado
definitivo, mas a base sobre o qual o grupo constrói o seu próprio saber.
[1] BENCHAYA, Salomão Jacob. Da religião espírita ao laicismo: a trajetória do CCEPA. Porto
Alegre-RS: Imprensa Livre, 2006.