domingo, 20 de fevereiro de 2011

FAMÍLIA E VIDA CONJUGAL FELIZ



Larissa Camacho Carvalho 1
Vinícius Lima Lousada 2

A construção social da família

Ao longo dos anos em que a humanidade aperfeiçoou-se, no processo de evolução ditado pela Lei Divina do Progresso, a constituição da família foi umas das mais significativas instituições formadas pelos homens. Inicialmente, quando mulheres e homens da era paleolítica agrupavam-se em bandos garantindo sua defesa pessoal e, respeitando a Lei de Preservação, multiplicavam-se através da procriação, pouco raciocinavam sobre suas ligações com os indivíduos do grupo. A união era útil, respeitava as Leis Divinas, o instinto de sobrevivência, sem, no entanto, centrar-se nos sentimentos elevados da abnegação, da fraternidade, da caridade, do amor ao próximo.

O desenvolvimento da inteligência no homem, aliado ao das instituições por ele formadas criaram a necessidade de instituírem-se laços diferenciados entre os indivíduos e as uniões responsáveis pela procriação ganharam um estatuto distinto. Este estatuto não foi somente direcionado para o casal que procriava, mas estendia-se a todos os descendentes deste par, reunidos todos na mesma casa matriarcal ou patriarcal, dependendo da cultura que foi sendo construída em cada sociedade.

Esses laços diferenciados exigiam, como compromisso dos indivíduos que constituíam esses pequenos núcleos, reciprocidade em todos os aspetos da vida, lealdade, protecionismo, cuidado, defesa, deferência e como consequência do progresso moral inevitável, sentimentos mais elevados de cuidado, carinho, amor. Este último desenvolvendo-se, intensivamente, entre os sujeitos com papéis de mães e filhos, depois, também, entre pais e filhos, irmãos, o casal e assim por diante.

No entanto, durante muito tempo assistimos essa instituição ser manipulada por indivíduos, com grande progresso intelectual, mas pouquíssimo desenvolvimento moral e espiritual, como moeda de troca, de barganha de cargos sociais ou títulos nobiliárquico por dinheiro ou riquezas torpes de todo tipo, desconsiderando, esses espíritos adoecidos e adormecidos das Leis Divinas, os sentimentos elevados já conquistados pelos homens com a contribuição dessa nobre e inspirada construção social.

Nomeamos essa instituição de família, que antes de ser uma construção social, faz parte do plano de Deus para que as criaturas na Terra tenham um auxílio valioso em seu inevitável progresso moral.

Na questão 775 d'O Livro dos Espíritos, Kardec – conhecendo a ignorância humana e percebendo que a família, na Terra, embora com enorme potencial edificador, passou e ainda passa por abalos que desestabilizam sua redentora missão – questiona aos benfeitores espirituais “qual seria, para a sociedade, o resultado do relaxamento dos laços de família”, ao que os espíritos respondem que seria “uma recrudescência do egoísmo”. De vital importância essa questão, pois considerando que o egoísmo é a chaga da nossa sociedade, conforme questão 913 do mesmo O Livro dos Espíritos, nossa ferida aberta enquanto grupo social, se o relaxamento dos laços de família intensificará o egoísmo na Terra isto significa, em contrapartida, que para desenvolvermos o altruísmo, o amor, os sentimentos nobilitantes que nos conduzirão ao progresso moral anelado, temos que fortificar os laços de família na nossa sociedade.

A resposta dos Espíritos também esclarece que a instituição família é o bendito instrumento de Deus para que possamos vencer o causador de todas as desditas humanas que é o egoísmo que nutrimos e que nos afasta das bençãos Divinas ao nos alijar dos sentimentos de fraternidade, solidariedade, altruísmo e amor que somente a convivência com o próximo pode nos oferecer.

Na família aprendemos a compartilhar com abnegação, porque nutrimos afeto por aqueles que compartilham nosso dia-a-dia, aprendemos a compreender o outro, porque conhecemos suas lutas passadas e presentes, sabemos seus sonhos de futuro, felicitamo-nos com suas conquistas e enternecemo-nos com seus incentivos para com nossas lutas. Na família aprendemos a repartir, dividir, mas também multiplicar sonhos, participar da felicidade alheia, fruir da companhia doce de quem amamos e com quem vamos intensificando esse sentimento Divino do Amor. É na família que vamos construir as bases do Amor Universal que nos lembra Jesus quando diz que um dia seremos um só rebanho e haverá um só Pastor.

Mas a convivência em família não é algo que possamos adjetivar de fácil. Há muitos percalços, muitas dificuldades, muitos desentendimentos e muito a transformar em nós mesmos para conseguirmos manter relações saudáveis em família. Deparamo-nos, no lar, com parentes muito diferentes de nós. Se somos organizados, por vezes defrontamos um irmão desleixado que não organiza seu próprio espaço íntimo. Convivemos com uma mãe super-protetora, com um pai controlador. Mas o amor nos faz aprender a conviver bem com cada personalidade que comunga do nosso mesmo lar.

Assim é que aprendemos a conviver, por exemplo, com um colega do escritório que é tão desorganizado quanto nosso irmão, ou com o chefe que é controlador a maneira de nosso pai e assim por diante. Enfim, todos os desafios da vida familiar são eminentemente educativos ao Espírito imortal, vocacionado ao progresso cuja a convivência na micro-sociedade que é a família contribui sobremaneira, em todas as funções que venha a ocupar o indivíduo, seja como pai, mãe, filho, tia, avô, etc. Todas essas funções na unidade familiar trazem consigo aprendizagens muito significativas ao nosso amadurecimento espiritual e nos cabe vivê-las com sabedoria, ou seja, aproveitando cada lição que tenhamos a oportunidade de vivenciar

O Amor em família engendra o Amor Universal. O Amor em família vai aniquilando a carga egoística da nossa sociedade. O Amor em família contribui, poderosamente, para o progresso individual e para o progresso de toda a humanidade. Assim é que necessitamos empenharmo-nos em defender a instituição familiar nos tempos que se apresentam ao nosso trabalho, pois que se ela configura-se construída socialmente, com certeza o plano inspirador pertence ao Pai Maior que pede nosso auxílio para protegê-la, santificá-la e concretizar seu objetivo superior: a instauração do Amor Universal entre os Homens.

Vida conjugal

Lembra-nos o Benfeitor Espiritual Camilo3 que todos trazemos necessidades educativas para esse mundo e carecemos, no campo das vivências afetivas, de uma complementação psíquica e emocional que nos impulsiona na busca do encontro de uma alma cuja afinidade espiritual favoreça essa permuta de energias e nos preencha essa lacuna psíquica. Não se trata do mito das “metades eternas” desmitificado por Allan Kardec sem equívoco e, nem tampouco, da tese romântica das almas gêmeas.

Simplesmente, somos seres transcendentes portadores de uma porção de aprendizados indispensáveis ao nosso paulatino progresso espiritual. Na multidão de Espíritos reencarnados na Terra, são vários os que são portadores de uma configuração de aprendizados comuns que lhes são oportunos, bem como, com uma certa identidade no que se refere à trajetória espiritual e desenvolvimento moral e intelectual, nas suas mais diversas gradações e pelas leis da sintonia, nos encontramos nos caminhos terrestres e, a partir do sentimento de simpatia recíproca desperta-se à comunhão afetiva, ou ainda, pela afinidade dos próprios limites espirituais, vamos ver uniões nascerem entre seres que se fazem instrumento de progresso doloroso ou tropeço, um do outro, em simbioses psíquicas perturbadoras.

Noutros casos, que não podemos ignorar, percebemos almas irmanadas nos propósitos de renovação e amor reencontrarem-se na Terra, tendo em vista a realização dos ideais enobrecidos no campo do amor, do casamento e da família, e esses casos não são tão raros como, de forma pessimista, muita gente imagina. Esses realizam muito bem o que recomenda o Espírito Bernard Palissy, conforme a anotação kardeciana em a Revista Espírita: “Uni-vos, pois, não apenas pelo amor, mas para o bem que podeis fazer a dois.”4

Cabe ao casal, nesse caso, cumprir com dedicação o programa reencarnatório estabelecido na vida espírita, antes do renascimento, junto de seus Guias Espirituais, objetivando a concretização da tarefa delineada para a sua espiritualização e para o seu contributo, por menor que se faça, ao progresso da família humana.

Tendo em vista orientar os cônjuges para o êxito da vida conjugal, ao analisar os ângulos espirituais da família, o Espírito Camilo declara que “O essencial que os indivíduos que se lançam na formação de uma nova família, assumissem compromisso de com o conhecimento de si mesmos.” 5

O conhecimento de si mesmo que cada indivíduo deve cultivar, para que jamais transfira ao outro a responsabilidade de suas andanças e o respeito ao projeto de auto-realização do outro, a fim de que o casamento não se institua numa relação asfixiante da outra alma ou numa masmorra de desamor.

O autoconhecimento é recurso sobejamente conhecido pelos espiritistas, entretanto, para que atenda o seu desiderato feliz é fundamental que o apliquemos cotidianamente, tal como recomenda Santo Agostinho em O Livro dos Espírito, fazendo um balanço problematizador de nosso cotidiano, verificando as aprendizagens conquistadas e as experiências equivocadas que merecem correção de rumo, em função de querermos jornadear conscientemente num rumo crescente para Deus.

Quando não exercitamos o autoconhecimento, podemos deixar-nos subjugar pelo ego e seus mecanismos de fuga. Segundo Novaes6 o ego é “a representação do Espírito no mundo externo. Ele é, de um lado, a síntese momentânea da personalidade integral, do outro, uma função que permite a ligação da consciência com os conteúdos conscientes.” Enfim, no delineamento da psique elaborado por Jung, o ego tem um lugar central no consciente, nada obstante, a sua incompletude ante o ser integral, ocupa-se da questão da manutenção da identidade do indivíduo, de sua personalidade atual e de mediação entre o campo da consciência e inconsciente, devendo obedecer a regulação do eu profundo.

Entre os mecanismos de fuga do ego, o eminente psiquiatra Alírio de Cerqueira Filho, destaca o de projeção. Nesse caso, é comum que o indivíduo ainda não identificado mais profundamente consigo mesmo passe a querer responsabilizar os outros em relação aos seus insucessos e frustrações. Nesse caso, diz-nos que “A única forma de se libertar da projeção é interromper esse mecanismo de transferência, aceitando os seus defeitos e responsabilizando-se pelos seus erros e acertos e, com isso, tornar-se uma pessoa melhor.”7

Vejamos que para a saúde espiritual da relação conjugal, tanto quanto, para a dos cônjuges, como individualidades extracorpóreas conectados ao corpo físico pelos mecanismos da reencarnação e vocacionados à plenitude, é indispensável o exercício continuado do autoconhecimento para que, superando-se os ditames do ego infantil, a autorealização promova o bem-estar e o autoamor que deságua no amor ao outro, com serenidade e contentamento, na convivência conjugal.

O casamento se fundamenta no amor dos seres que se unem que, para ser amor, não pode ser edificado na anulação da identidade do outro e nem na perseguição egotista de uma felicidade aparente, calcada fruição de conquistas individualistas sem consideração para com a partilha da existência com o outro. Precisamos encontrar convergência nos projetos pessoais e parceria na edificação positiva do lar cujos pilares são os Espíritos que o formam ligados pelo mais genuíno amor.


O amor no lar, novamente

A relação conjugal estabelecida no autoconhecimento gera o respeito profundo ao outro que se estende, quando chegarem, aos filhos. É na exemplificação do entendimento dos próprios limites que alguém consegue desenvolver a indulgência com as alheias imperfeições e no autoperdão que aprendemos a arte de perdoar nossos seres queridos.

De forma equilibrada, quem ama a si mesmo, que não é a mesma coisa que egolatria, aprende a amar o outro e o seu livre-arbítrio, sem aquele ímpeto de domínio da vontade alheia, comum a Espíritos de mentalidade estreita e apóia, sem medo, os projetos edificantes elegidos pela alma com a qual está a partilhar essa vida.

Na lealdade, probidade e consciência plena das responsabilidades sedimenta-se o amor familiar que irá acolher seus hóspedes, os filhos de Deus que temporariamente recebe por rebentos seus cuja missão é fazê-los exitosos sobre si mesmos, ante as suas programáticas espirituais. Adentrando o lar o amor ilumina a todos, instituindo um clima de respeito profundo, boa vontade e presença positiva nas lutas comuns.

O amor em casa, tal como o preconizado por Jesus de Nazaré, é o que dá rumo seguro à família como educandário sublime cujo altruísmo é a lição fundamental. O amor é o caminho do êxito da instituição familiar, jamais ultrapassada, constituindo-se, inclusive, na terapêutica mais excelente para a solução de intrincados conflitos, oriundos da incompreensão de hoje ou dos desenganos morais perpetrados no passado e condicionante de nossas ações na atualidade, pedindo a educação pessoal para o bem de todos os partícipes do campo doméstico.

Para pensar:

“A união e a afeição que existem entre pessoas parentes são um índice da simpatia anterior que as aproximou. Daí vem que, falando-se de alguém cujo caráter, gostos e pendores nenhuma semelhança apresentam com os dos seus parentes mais próximos, se costuma dizer que ela não é da família. Dizendo-se isso, enuncia-se uma verdade mais profunda do que se supõe. Deus permite que, nas famílias, ocorram essas encarnações de Espíritos antipáticos ou estranhos, com o duplo objetivo de servir de prova para uns e, para outros, de meio de progresso.”8


(1) Historiadora, Doutoranda em Educação. E-mail: camachocarvalho@yahoo.com.br.

(2) Pedagogo, Doutorando em Educação. E-mail: vlousada@hotmail.com

(3) TEIXEIRA, J. Raul. Desafios da Vida Familiar. Pelo Espírito Camilo. 2.ed. Niterói, RJ: Fráter Livros Espíritas, 2003, p. 46.

(4) KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Ano Primeiro – 1858. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004, p. 513.

(5) TEIXEIRA, J. Raul. Nos passos da vida terrestre. Pelo Espírito Camilo. Niterói, RJ: Fráter Livros Espíritas, 2005.

(6) NOVAES, Adenauer. Psicologia do Espírito. 2. Ed. Salvador: Fundação Lar Harmonia, 2003, p. 99.

(7) CERQUEIRA FILHO, Alírio de. Saúde espiritual. Santo André, SP: Editora Bezerra de Menezes, 2005, p. 75-76.

(8) KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. 120. Ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2002, p. 108.

Artigo Pubicado na Revista Reencarnação do I sem. de 2011.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

DEUS ESCREVE CERTO POR LINHAS TORTAS

Foto: Flores no litoral - VLL


Gianni Salvini
Colaborador da União Espírita Bageense

            Quem nunca ouviu esta expressão? “Deus escreve certo por linhas tortas”. Costumamos ouvi-la, normalmente, após termos passado por uma situação difícil, após uma decepção ou por uma prova onde achávamos que tudo estava perdido, mas que de repente, no final das contas, não é que deu tudo certo?
            Nós humanos, nos achamos modernos, racionais, achamos que a ciência tem a resposta para tudo. Nós mesmos que jurávamos que a Terra era achatada como um disco. Nós que críamos que a Terra era o centro do universo e que todos os outros globos, estrelas, satélites e tudo mais, é que giravam em torno de nosso singelo planeta chamado Terra.
            Não admitimos nossa inferioridade perante a imensidão do universo e das obras de Deus. Não admitimos nosso egocentrismo. Praticamos a egolatria desde muito tempo. Preferimos rebaixar Deus a nossos vícios e imperfeições morais do que admitir a magnificência de Suas obras. Fazemos de Deus um velho de barba, sentado num trono, punindo e castigando qualquer falta que venhamos a cometer. Falamos da “mão de Deus”, os “olhos de Deus”, e assim por diante, tudo por falta de termos para comparação, mas não admitimos nossa pequenez.
            Reconhece-se a presença dos homens pela sua obra. Pela grosseria ou pela exatidão e beleza do trabalho, se reconhece o grau de inteligência de quem executou a obra. Lançando o olhar em torno da natureza, podemos imaginar, pela beleza e superioridade das obras que não foi o homem, nem o acaso que produziu isso tudo. É obra de uma inteligência superior a humanidade.
            No estado de inferioridade que nos encontramos ainda não nos é facultado, compreender totalmente a essência de Deus. “(...) ainda nos falta o sentido próprio, que só se adquire por meio da completa depuração do Espírito(...).”[1] Deus é a suprema e soberana inteligência, eterno, imutável, imaterial, onipotente, infinitamente perfeito, único e soberanamente justo e bom.
            Sendo Ele soberanamente justo e bom, poderia desejar mal a algum de seus filhos? Jesus nos responde em Mateus 7:9-11. “E qual de entre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?”
            A providência Divina. Deus sabe o que é melhor para nós. Confiemos nele. Um filho nos pede uns patins, por exemplo, e sabemos que ele, por ser muito novo ainda, com qualquer queda poderá se machucar, pois não tem idade para este tipo de brinquedo ainda, mas daqui alguns anos ele estará apto a brincar tranquilo sem perigo de uma queda dolorosa. Naquele momento, nosso filho, nos vê como cruéis e intolerantes. Assim é com Deus em nossa vida, quando não conseguimos o que queremos. Nos achamos injustiçados, preteridos.
            Ele sabe o melhor momento para mudarmos de cidade, para ganhar aquela promoção no emprego, fechar aquele negócio, comprar a casa nova, estudar neste ou naquele local. Somos afoitos como crianças. Se não foi desta vez, logo virá algo melhor. Deus conhece nossas necessidades, nossos anseios e sabe o que é melhor para cada um.
            Trabalhemos e confiemos em Deus. Assim como Ele provê a comida a todos os pássaros, mas não as joga em seus ninhos, nós também devemos trabalhar para obter o que Ele nos reservou de melhor.
            Deus não escreve certo por linhas tortas. Nós e que não sabemos ler o que Ele escreve em linhas retas, pois ainda somos pouco alfabetizados na escola do espírito.

           




[1] KARDEC, Allan. A Gênese. 48º edição. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 2005. P. 68.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Podemos nos comunicar com os “mortos”?



José Artur M. Maruri dos Santos, advogado e colaborador
josearturmaruri@hotmail.com



Qualquer discussão sobre espiritismo deve passar por um tríplice questionamento (1): “Credes em Deus? Credes ter uma alma? Credes na sobrevivência da alma após a morte?”.

Na hipótese de você responder negativamente, ou mesmo se a sua consciência lhe responder que não sabe ou que não está seguro disso, não prossiga na leitura deste artigo.

Por outro lado, se a sua consciência lhe diz que Deus existe, que temos uma alma e que a alma pode sobreviver ao que chamamos de morte, siga em frente, porque é daí que decorre a existência dos espíritos.

Agora, leitor, se indague quanto à possibilidade da comunicação dos espíritos conosco, espíritos investidos na experiência carnal.

Reflita: um homem livre não pode se comunicar com um homem aprisionado? Parece-me que isso é totalmente possível. Tão possível quanto um espírito fora da experiência corporal dirigir-se a um espírito encarnado, eis que o primeiro é totalmente livre para comunicar-se com quem bem entender.

Várias religiões crêem e professam a existência das almas e admitem que elas estejam por toda a parte, tanto que algumas apontam para locais onde elas se encontram após a morte e outras que em seus rituais prestam-se apenas ao afastamento dos seres espirituais e sequer preocupam-se com o encaminhamento destes. Portanto, tendo isto como premissa, não é natural pensar que quem nos amou durante a vida se aproxime de nós e queira conosco comunicar-se?

Agora, se você respondeu as três primeiras questões de modo negativo, ou mesmo qualquer delas, podemos concluir que você não é afeito à questões transcendentais.

Dessa forma, convidamos você, caro leitor, para que se atente para a seguinte inserção: a simples negação da possibilidade de comunicação com os “mortos” não traz prova alguma de que isto não seja perfeitamente possível. Partindo deste princípio, invertemos a nossa posição e pedimos provas peremptórias que a comunicação com os entes que já se foram é impossível. Mas pedimos provas concretas, que por a mais b nos seja evidenciado

1º Que o ser que pensa em nós durante a vida, não deve mais pensar após a morte;

2º Que, se pensa, não deve mais pensar naqueles que amou;

3º Que, se pensa naqueles que amou, não deve mais querer se comunicar com eles;

4º Que, se pode estar por toda a parte, não pode estar ao nosso lado;

5º Que, se está ao nosso lado, não pode se comunicar conosco;

6º Que por ser corpo fluídico não pode agir sobre a matéria inerte;

7º Que, se pode agir sobre a matéria inerte, não pode agir sobre um ser animado;

8º Que, se pode agir sobre um ser animado, não pode dirigir sua mão para fazê-lo escrever;

9º Que, podendo fazê-lo escrever, não pode responder às suas perguntas e transmitir-lhe seu pensamento” (2) .

Dessa forma, nos utilizamos deste espaço para que você, leitor, reflita sobre todos estes questionamentos e procurem provas concretas da impossibilidade da comunicação com os que já se foram. Pois, o espiritismo traz a evidência pelos fatos que nos aparecem diariamente e a traz, também, pelo raciocínio.

Agora, se ainda assim você não encontrar provas destes fenômenos, pedimos que o nosso raciocínio seja contestado e que o equívoco dos fatos seja evidenciado.
___________


(1) KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. IDE, 87ª Edição, 2008. Cap. I, item 4, p. 12.


(2) KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. IDE, 87ª Edição, 2008. Cap. I, item 4, p. 13.