domingo, 27 de janeiro de 2008

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A FÉ







Carolina Lopez Israel
C. E. Mansão da Paz - Rio Grande/RS





Desde seus primórdios o ser humano começou a observar os fenômenos naturais e a se indagar o que eram, assim como também, ao observar a si mesmo realizou profundas conjeturas sobre o que era e qual a finalidade de sua existência. Começou então a estabelecer um sistema de crenças, todas baseadas na certeza da existência de poderes superiores, divinos. Estas crenças sempre estiveram condicionadas ao nível de compreensão daqueles que as professavam.. O ser humano observando a natureza via nela a manifestação de forças poderosas, misteriosas, e por não compreender como as coisas de davam atribuía a cada fenômeno natural a ação de uma divindade. Sendo que, as forças naturais representariam divindades diversas (o raio, o trovão, as águas, o vento, etc.). Com tempo começou a se atribuir uma noção mais abstrata às divindades, ou seja, seriam entidades, deuses que regeriam todos os processos do mundo, assim como, as atividades e vidas humanas. Seriam responsáveis pela família, pelo clã, pelas profissões...


Desse modo, como o ser humano sempre intuiu, de certa forma, uma força divina por trás da Natureza e de sua vida (porque a crença em Deus é inata e consiste na Lei de Adoração
[1]), ele também se perguntava quem era e o que aconteceria depois da morte. De certa forma sempre creu que teria vida imortal, mas esta crença estaria subordinada a um maior ou menor amadurecimento espiritual das criaturas. Esse amadurecimento é adquirido através de inúmeras de experiências, onde acumula conhecimentos – aumentando seu nível de inteligência e sensibilidade – para compreender ou, ao menos, entrever melhor a realidade do Espírito e de Deus.

Tentando explicar os fenômenos da natureza, a razão de sua existência e seu futuro pós-morte, o ser humano começou a estruturar todo um sistema de crenças a fim de encontrar repostas, sempre auxiliado pelos benfeitores da vida maior ou luminares reencarnados.
Então, surgem as mais variadas crenças, indo do politeísmo ao monoteísmo, de uma visão mais antropomórfica da divindade, onde Deus era representado como um ser humano comum com todas nossas imperfeições, mas com um poder ilimitado, à visão mais espiritual de Deus, onde se tem consciência que não podemos adentrar no conhecimento profundo sobre a sua natureza, pois esta difere de tudo o que conhecemos, mas temos idéia a respeito de seus atributos básicos: onisciência, onipotência, toso bondade, justiça e sabedoria, eterno, imutável, imaterial e uno
[2].Em relação a nós mesmos, vários esquemas também foram construídos, sempre mais ou menos limitados.
Toda crença religiosa reflete de certa forma uma parte da verdade (que é una), mas pelas imperfeições humanas sofre inúmeras deturpações e aqueles que detêm o poder de transmiti-la (sacerdotes) geralmente a utilizam em benefício próprio e por tolo orgulho querem monopolizar tais conhecimentos impedindo os outros de pensarem por si mesmos. Enquanto o chamado crente, de qualquer religião, permanece estancado no comodismo de não ter que raciocinar nada por ele mesmo se deixa conduzir cegamente.
A maioria tem em si a fé de forma inata, pois é inerente á natureza humana ter intuição de Deus e de sua essência espiritual e de que a realidade não é apenas o que podemos ver, pois nossos sentidos sendo limitados não podem apreender tudo o que existe.
Antes era a religião ao se equivocar de conceber a fé sem a ciência, mas hoje é a ciência que se equivoca ao ver o mundo sem Deus[3], pois como irá se admitir o fenômeno inteligente sem uma causa igualmente inteligente? Aliás, porque o acaso iria querer vida e mantê-la em cada canto do universo? Num livro de Historia da ciência intitulado “Breve Historia de quase tudo”, de Bill Bryson o autor nos fala da probabilidade do acaso realizar todas as combinações de aminoácidos em nosso organismo é a mesma de um vendaval passar por um depósito de sucata e dali surgir um avião...e olhem que o autor não é religioso.
O Espiritismo vem nos mostrar a fé sem necessidade de um rótulo, dogmas ou cerimônias, uma fé baseada no raciocínio. O que seria esse raciocínio? É saber por que creio no que se baseia minha crença, os fatos nos quais ela está alicerçada. E depois o bom censo desta crença ou não. Se acredito num Deus que castiga, será que há lógica? Porque se Deus é bondade absoluta como ele iria condenar um filho? Se creio que posso comprar os favores divinos com promessas ou cargos religiosos, isto combina com minha crença de que Deus é imparcial e que vê a alma das criaturas e não o externo? E assim por diante...
Aliás, os primeiros espíritas, incluindo Kardec, tiveram a preocupação em analisar e estudar racionalmente os fenômenos que se apresentavam sem a visão fantástica a respeito da espiritualidade que está em voga ainda hoje. Tanto como os mais fúteis viam nas mesas girantes motivo para diversão e chacota hoje ainda se fala em fenômenos e se divulgam os mesmos com extremo sensacionalismo, sem a preocupação por uma reflexão séria sobre as realidades que eles vêm nos apresentar. Assim como o tema da mediunidade, grave responsabilidade e oportunidade de serviço iluminador para seu portador, mas encarada como distintivo de glória efêmera e exclusivista por muitos.
A verdadeira fé é aquela que se baseia nas verdades fundamentais, é ter consciência plena da realidade e da razão de existir sem necessidade de dar-se um nome, como o próprio Kardec diz em A Gênese[4]: haverá um dia em que todos se irmanarão numa mesma crença. Essa crença não tem porque ser o Espiritismo, o Espiritismo nos leva a compreensão de que a realidade é única e o ser humano interpreta de diversas formas segundo seu nível de conhecimentos, sua inteligência e maturidade espiritual.
Haverá um dia no qual o conhecimento de Deus, do Espírito, de nossa destinação e da reencarnação será totalmente natural.
Com o Espiritismo as virtudes deixam de ser uma imposição arbitrária, mas a própria condição de nossa felicidade.
Não haverá mais a figura terrível do pecado, pois o ser será mais consciente de que errou e de que deve que reparar esse erro mediante o bem fazer, o bem pensar e o bem agir.
Não mais aquela felicidade de beatitude inútil ou tormentos eternos, mas o continuo progresso do Espírito mediante o trabalho e o esforço próprio assistido pela infinita misericórdia divina.
Não mais o pensar que é necessário se isolar do mundo porque ele é fonte de pecado, mas estar no mundo sem ser do mundo, pois é necessário aqui estar para progredir e auxiliar os outros.
Não mais pensar que estamos irremediavelmente separados pela morte e sim que sempre se estará unido pelo pensamento e o sentimento, mesmo estando em dimensões diferentes.
A fé faz o homem e a mulher de bem, pois ela eleva a visão que temos da vida, não nos permitindo ficar no pântano das ilusões, naquilo que é passageiro. Cargos, paixões, problemas, doenças, calúnias, ambição e etc.
Ela nos faz ver o objetivo real de aqui estarmos e de que a atenção que damos ao mal se deve ao nosso primitivismo e nossa infantilidade, fazendo-nos almejar coisas mais perenes, como os bens do Espírito. E, também, que os outros as alcancem igualmente, nos livrando de nosso egoísmo exacerbado iremos parar de esperar que os outros sejam aquilo que queremos para ser aquilo que ao outros querem que sejamos, ou seja, iremos parar que exigir compreensão e solidariedade para sermos nós a atender os outros nas dores, na incompreensão... Claro que não seremos santos de uma hora para outra, mas começando nossos esforços hoje já é um passo.
Aquele que tem fé verdadeira, não importando o rótulo, se torna alguém moralmente melhor. Daí nos perguntamos, sinceramente: até onde vai a minha fé? Não no sentido de acreditar que tudo é possível, que meus petitórios sejam todos atendidos mas no sentido de saber até onde minhas ações corroboram minhas crenças. Se descobrirmos que ela ainda é muito pequena (que com certeza ainda o é porque senão estaríamos bem melhores), não nos desesperemos, pois vendo nossa pequenez é que crescemos.
Sejamos então alegres em nos descobrindo eternos aprendizes e cultivando a verdadeira fé em nossos caminhos, pois ela clareia nossa visão, não nos deixando chafurdar na ilusão.



BIBLIOGRAFIA

BRYON, Bill. Breve Historia sobre quase tudo. Companhia das Letras, São Paulo. 2003.

FRANCO, Divaldo. Jesus e o Evangelho a Luz da Psicologia profunda. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Editora Alvorada, Salvador. 2000.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Editora IDE .São Paulo. 1998

KARDEC, Allan.O Evangelho Segundo o Espiritismo. Editora IDE, São Paulo, 1998.

KARDEC, Allan .A Gênese. Editora IDE, São Paulo. 1998.

MACEDO, Cristian, O despertar da alma. Sociedade Espírita Esperança. Gravataí. 2004.

TEIXEIRA, Raul. A carta magna da paz. Pelo Espírito Camilo. Fráter, Niterói. 2002.


[1] KARDEC, Allan. Livro dos Espíritos Capítulo II do livro terceiro[2] KARDEC, Allan. Livro dos Espíritos. Capítulo I.[3] KARDEC, Allan. Evangelho segundo o Espiritismo.[4] KARDEC, Allan. A Gênese, capítulo XVIII ítem 19.

domingo, 13 de janeiro de 2008

VIVER KARDEC

Allan Kardec
Nos estudos,
Nas cogitações,
Nas atividades,
Nas obras
A fim de que a nossa fé não se faça hipnose pela qual o domínio da sombra se estabelece sobre as mentes frágeis acorrentando a séculos de ilusão e sofrimento.
Seja Allan Kardec:
Não apenas crido ou sentido,
Apregoado ou manifestado a nossa bandeira de fé,
Mas suficientemente:
Vivido
Sofrido
Chorado
E realizado em nossas próprias vidas.
Sem essa base é difícil forjar o caráter espírita-cristão que o mundo espera de nós através de nossa própria unidade.



Bezerra de Menezes


(Página psicografada por Francisco Cândido Xavier, extraída do livro Doutrina e Vida, editado pela Cultura Espírita União)