segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Medite sempre


VINÍCIUS LIMA LOUSADA
vlousada@hotmail.com
Passo Fundo, RS (Brasil)



O homem que busca a realização pessoal inevitavelmente é impelido à interiorização. – Joanna de Ângelis [1]


Lá fora, na vida social, ainda vigora a agitação e a angústia a que se entregam os indivíduos refletindo no organismo da sociedade a inconstância emocional dos seus membros e os conflitos existenciais que são portadores inconscientes.

Na competição entre o ser e o ter, em que o último tem sido o campeão ovacionado pela massa, os valores transitórios e as conquistas mentirosas são, lamentavelmente, o fanal perseguido pelas criaturas desconhecedoras de sua natureza espiritual.


Nesse afã, religiões têm sido criadas e templos suntuosos erguidos para satisfazer uma fé perturbadora que promove a pseudotranscendência porque empurram o ser às conquistas transitórias a fim de que anestesie, de forma alienante, o vazio existencial que ultraja os seus dias.


A experiência no campo do espiritual é autêntica e promove a transcendência quando tem a “capacidade de potenciar a liberdade”
[2].


Propostas que não libertam e ao invés de espiritualizarem promovem posturas fanáticas e propalam o materialismo como filosofia subjacente, com as suas consequências deploráveis.


Doutrinas absurdas, promessas de curas e vantagens mundanas têm sido enunciadas ao povo simples que a elas se agarram por desconhecerem os próprios potenciais que os credenciariam à libertação sem a manipulação dos falsos profetas [3], identificados por Jesus como lobos devoradores.


Diante dos fariseus que queriam apedrejá-lo sob a falsa alegação de que ele se dissera Deus, o Mestre recordou as escrituras[4] perguntando-lhes:


Não está escrito na vossa lei: “Eu disse: Sois deuses?”. [5]


De certo modo, esse questionamento de Jesus também nos fala da transcendência que possuímos e que temos o dever de desenvolver saudavelmente.

Um recurso para atender à nossa vocação para transcender os limites materiais e socioculturais da experiência terrena está presente na meditação.


Para a meditação se tornar um hábito é preciso dar-lhe início e exercitá-la até que se incorpore no cotidiano como uma prática simples, desataviada, cujo foco seja a busca de si mesmo.


Inicialmente, a meditação precisa ser breve para ser gratificante, de forma que o indivíduo tenha vontade de prosseguir o exercício noutro momento.


Ao realizar a meditação analítica, o praticante concentra-se em sua própria natureza moral, estudando uma imperfeição por vez e podendo refletir sobre as possibilidades de que dispõe para a sua superação, ainda que por alguns minutos.


A prática continuada da meditação educa o pensamento, disciplinando-o a um foco, e, nesses dias de dispersão, a sua repetição fixa o aprendizado da atenção plena.


De início apresenta-se a dificuldade de concentração que será superada somente com treinamento.


Procure respirar calmamente e sente-se de modo confortável, nada obstante, possa meditar caminhando.


Observe a sua respiração por alguns minutos. Logo a seguir, atenha-se ao que lhe dizem os seus pensamentos e faça uma leitura de seus conteúdos.


Seus pensamentos são o reflexo do que você é, e você é o que nutre na alma. Procure identificar os pensamentos negativos e inferiores com tranquilidade.

Eleja um tipo deles para começar a transformar para melhor.


Verifique os demais, provavelmente você encontrará pensamentos positivos, saudáveis e de aspirações superiores. A prova disso é que você está fazendo, exatamente agora, uma leitura edificante e está interessado na arte de meditar!

Procure mudar o teor de seus pensamentos, mas não esqueça que isso se dará com o tempo e à custa somente de seu próprio esforço.


A arte de transformar a qualidade dos pensamentos pede, para que seja efetivada, a utilização da energia possível de ser mobilizada na prece.


No cotidiano ore e vigie a sua casa mental a fim de limpar a própria mente e superar a sombra interior, num processo paulatino e continuado.


A prática da meditação vai levar você ao equilíbrio emocional pela educação dos sentimentos e libertação de emoções afligentes ou pensamentos perturbadores.


E a paz não será raridade em seu mundo íntimo, mas um estado de espírito conquistado como um ensaio para a plenitude.



[1] FRANCO, Divaldo. Momentos de Meditação. (Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis). Salvador/BA: LEAL, 1998, p. 3.

[2] BOFF, Leonardo. Tempo de transcendência: o ser humano como projeto infinito. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 33.

[3] Mateus, 7:15.

[4] Salmos, 82:6.

[5] Jo, 10:34.