quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

NATAL...



Espírito: MEIMEI.







Diante do bolo iluminado, abraças, feliz, os entes amados que chegaram de longe...



Ouves a música festiva que passa, de leve, por moldura de harmonia às telas  da natureza... Entretanto, quando penetrarem o tempo da oração, reverenciando o



Mestre que dizes amar, mentaliza o estábulo pobre.



Ignoramos de que estrela chegando o Sublime Renovador, mas todos sabemos  em que ponto da Terra começou ele o apostolado divino.



Recorda as mãos fatigadas dos tratadores de animais, os dedos calosos dos homens do campo, o carinho das mulheres simples que lhes ofertaram as primeiras gotas do próprio leite e o sorriso ingênuo dos meninos descalços que lhe recebera, do olhar a primeira nota de esperança.



Lembra-te do Senhor, renunciando aos caminhos constelados de luz para acolher-se, junto dos corações humildes que o esperavam, dentro da noite, e desce também da própria alegria, para ajudar no vale dos que padecem...



Contemplará, de alma surpresa, a fila dos que se arrastam, de olhos  enceguecidos pela garoa das lágrimas. Ladeando velhinhos que tossem ao desabrigo, há doentes e mutilados que suspiram pelo lençol de refúgio na terra seca. Surgem mães infelizes que te mostram filhinhos nus e crianças desajustadas para quem o pão farto nunca chegou. Trabalhadores cansados falam de abandono e jovens subnutridos se referem ao consolo da morte...



Divide, porém, com eles o tesouro de teu conforto e de tua fé e, nos recintos de palha e sombra a que te acolhes, encontrarás o Cristo no coração, transfigurando-te a vida, ao mesmo tempo em que, nos escaninhos da própria mente, escutarás, de novo, o cântico do Natal, como que repetido na pauta dos astros: - Glória a Deus nas alturas e boa vontade para com os homens!...
FONTE: LIVRO ANTOLOGIA MEDIÙNICA DO NATAL –




Psicografia: Francisco Cândido Xavier.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Morte e significado

Cícero Marcos Teixeira




Vamos procurar analisar parcial e genericamente alguns aspectos de mortes violentas, através de acidentes ou desastres dolorosos.

O que ocorre com as pessoas que são surpreendidas com a morte física num desastre?

Quais as sensações e emoções que as vítimas de um acidente fatal sentem ou vivenciam nos momentos deste tipo de morte?

Tomando por fundamentação teórica os ensinamentos espíritas, e com base em informações mediúnicas confiáveis, pode-se estabelecer alguns princípios gerais para elucidar a dinâmica do fenômeno da morte ou desencarnação e o processo do morrer propriamente dito.

Em princípio, é necessário esclarecer que a morte é um fenômeno natural inerente à dinâmica da própria vida.


O que é que morre ou desencarna?


Apenas o corpo físico morre, isto é, passa por uma série de transformações psicobiofísicas de degradação energética, com rupturas dos centros vitais bioenergéticos que integram os diferentes sistemas atômicos celulares componentes de tecidos, órgãos, aparelhos e demais sistemas interativos que compõem o organismo humano como verdadeiro eco-sistema de manifestação vital.


Resumidamente, na visão materialista, a morte significa o caos orgânico, irreversível, culminando na cessação de todas as funções vitais e conseqüente desagregação do organismo físico, através da decomposição cadavérica, nada restando após a morte propriamente dita.


Na visão espiritualista de um modo geral, algo sobrevive após o fenômeno da morte física.


Sem maiores detalhes ou considerações filosóficas, o espiritualista de um modo geral, admite a existência da alma ou do Espírito e, portanto, ao morrer, independente do gênero de morte ou desencarne, a alma ou espírito sobrevive, continuando a viver no mundo espiritual.


O espiritualista espírita descortina um horizonte mais amplo, tendo um acervo de ensinamentos esclarecedores sobre a dinâmica da morte e do morrer, relacionado ao gênero de vida consciencial da criatura humana, independente da faixa etária, sexo, raça, cultura, religião, posição social, etc.


No caso particular da visão espírita, a morte ou desencarnação propriamente dita implica uma série de fenômenos não só psicobiofísicos: também inclui outros de natureza anímico-conscienciais extrafísicos, paranormais e mediúnicos de grande complexidade que, direta ou indiretamente, podem evidenciar a sobrevivência do espírito ou consciência que continua a viver após a ruptura dos laços bioenergéticos que mantinham o organismo físico em plena atividade, como veículo ou instrumento de manifestação do espírito encarnado, durante a respectiva cota de tempo de vida, compatível com as necessidades e projetos de realização e auto-realização consciencial, em cada experiência reencarnatória.

Assim sendo, a vida inteligente, consciencial, não se extingue com a morte física propriamente dita. O Eu-consciencial ou Espírito, ser pensante, volitivo, dotado de instinto, emoção, sentimento, razão, linguagem conceitual e demais atributos humanos, ao passar pelo fenômeno da morte do corpo físico, de acordo com seu estágio evolutivo espiritual, terá maior ou menor autonomia e maior ou menor lucidez consciencial, cognitiva, afetiva e volitiva, para compreender as diferentes fases do processo da morte física propriamente dita.


De acordo também com seu grau de educação consciencial e espiritual e, ainda, conforme as ações e obras realizadas em vida, terá maior ou menor merecimento, além do sentimento de auto-estima pelo cumprimento dos deveres e realizações edificantes não só em beneficio próprio, como, também, em favor dos seus semelhantes, da comunidade e da sociedade em geral.


Em tais circunstancias, os que viveram edificantemente, independente de rótulos místicos ou religiosos, apresentam melhores condições psicodinâmicas conscienciais para compreender e aceitar com maior ou menor autocontrole, equilíbrio e serenidade as surpresas da sua própria desencarnação.


Por outro lado, os que em decorrência da imaturidade consciencial, espiritual, cometeram equívocos, vivendo egoísta e egocentricamente, não aproveitando bem as lições da vida, no sentido de promover o auto-conhecimento e a construção da paz dentro e fora de si mesmos, apegando-se ao corpo físico como única realidade e razão de ser. estes que assim viveram terão maiores dificuldades para compreender e aceitar a surpresa da própria morte física e a grande realidade de sua própria sobrevivência como espírito desencarnado.


Isto não que dizer que a pessoa esteja condenada pela eternidade afora a um sofrimento infernal, tal qual as religiões dogmáticas e sectárias incutiram na mente popular.


Absolutamente. Cada consciência, de acordo com seu biorritmo e tempo de assimilação e vontade de reconstruir o próprio destino, para melhor, terá tantas oportunidades de aprendizagem auto-redentora quantas necessitar para construir a própria plenitude consciencial e existencial ao longo das vidas sucessivas.




Deste modo, na visão espírita, a vida é imperecível e o ser humano é um agente co-criador integrante do Plano Divino da Criação, e, conseqüentemente, arquiteto de seu próprio destino feliz ou infeliz.


Esta digressão teórica se faz necessária no sentido de estabelecer alguns princípios gerais relativos ao fenômeno da morte e seu significado.


I—A morte é apenas uma mudança de estado de ser. de pensar, de sentir e agir.


É natural a reação de rejeição e não-aceitação da morte, qualquer que seja a situação circunstancial.


Esta reação é geral, sendo uma decorrência espontânea do instinto de conservação e auto-preservação inato no ser humano.


Graças ao instinto de conservação, reprodução e autodefesa, a espécie humana se mantém, sobrevivendo aos grandes desafios da evolução onto e filogenética e da necessidade de adaptação evolutiva, em íntima interação com a multi-diversidade dos eco-sistemas ambientais do planeta Terra e sua respectiva Biosfera.


Assim sendo, na dinâmica da vida, nascer, crescer, reproduzir, viver e morrer constituem um processo bioenergético, psicobiofísico, anímico-consciencial, universal, presente em todos os Reinos da Natureza, em sua multidimensionalidade física e extra-física.


O medo da morte é, pois, uma reação instintiva que se evidencia através do comportamento humano ao longo da evolução histórica, antropológica, cultural, religiosa, etc. da humanidade terrestre, variando com a época e com as características culturais, costumes, práticas e tradições religiosas de diferentes tribos, povos, raças e nações, tanto no Oriente quanto no Ocidente.




Entretanto, parece haver em todas as culturas, ao longo das diferentes épocas da história, a crença mais ou menos generalizada na sobrevivência espiritual do ser humano.


As diferentes tradições religiosas criaram diferentes regras e procedimentos ritualísticos místico-religiosos, influenciando a mente popular, submetendo-a aos dogmas e preceitos estabelecidos pelas diferentes religiões no mundo, e direta ou indiretamente, implícita ou explicitamente, o medo da morte vem passando de geração a geração.


Nos tempos atuais, com o advento da tanatalogia como uma área de investigação e conhecimento cientifico, o tabu da morte aos poucos vai se transformando numa visão mais realística e consentânea com o progresso das investigações dos fenômenos paranormais que ocorrem com os doentes terminais e nas experiências da chamada morte aparente.


Como decorrência, a morte está sendo encarada com maior naturalidade, despida daqueles paramentos fúnebres e lúgubres de décadas atrás.


Neste particular a contribuição do Espiritismo é inegável e valiosamente significativa para desmitificar e desmistificar a morte como algo terrível, assustador e um caminho sem volta.


A morte ou desencarnação é, pois, apenas e tão-somente uma transmutação profunda psicobifísica, anímica e consciencial, refletindo intensamente no pensar, sentir e agir do ser humano, que deixa de se manifestar na vida de relação no plano físico, através do respectivo corpo psicossomático para continuar a pensar, sentir e agir sem o instrumento físico, no reino do Espírito, onde igualmente a vida de relação continua em outras tonalidades vibratórias, por meio da manifestação do pensamento e da vontade, de acordo com o grau de evolução e maturidade consciencial e espiritual alcançado, em sua última experiência reencarnatória.


II—A vida de relação não cessa com a morte física propriamente dita.




Os diferentes e diversificados fenômenos paranormais e mediúnicos, observados por ocasião não só da morte física, como também através de manifestações espontâneas ou provocadas experimentalmente, sugerem de maneira significativa que o ser humano desencarnado mantém uma dinâmica interação volitiva, energética, inteligente e afetiva, no mundo espiritual ou espiritosfera, em obediência à lei de sintonia, afinidade e ressonância vibratórias.


Isto posto, fica entendido que o intercâmbio mediúnico é um fenômeno universal entre encarnados e desencarnados e se verifica também entre os desencarnados no Reino dos Espíritos ou Espiritosfera, obedecendo-se aos mesmos princípios universais da lei de afinidade, sintonia e ressonância, correspondentes aos respectivos planos multi e transdimensionais extrafisicos conscienciais.


Deste modo, desde a mais remota antigüidade, o fenômeno mediúnico sempre foi uma prova de que o intercâmbio mediúnico entre encarnados e desencarnados existiu sempre como um fato natural e de amplitude universal.


III—O princípio de interdependência e de interação psicodinâmica entre encarnados e desencarnados é um fenômeno universal.


Assim sendo, as ações e reações interativas entre os seres humanos encarnados e desencarnados ocorreram sempre ao longo da história da humanidade terrestre, dando origem às diferentes manifestações místico-religiosas que fazem parte da herança cultural de todos os povos, raças e nações, tanto no Oriente como no Ocidente.


Estas interações podem se manifestar de maneira sutil ou ostensiva, assumindo características harmônicas ou desarmônicas, em função de sua influência positiva ou negativa no comportamento individual ou coletivo do ser humano.


IV—Os Espíritos desencarnados podem se manifestar espontaneamente ou por meio de evocação.

Em decorrência dos princípios anteriores, a manifestação do Espírito desencarnado pode se dar espontaneamente em função da lei de sintonia e afinidade. Os espíritos são atraídos em razão da existência de laços de simpatia que os atraem para se manifestarem a pessoas no meio onde vivem, objetivando manter uma relação harmônica, edificante e solidária.


Podem também ser conseguidas tais manifestações por meio de evocações, e de motivos justos, que justifiquem tal procedimento com finalidade de investigação e pesquisas sérias e construtivas.


V—A morte ou desencarnação, mediante um desastre doloroso e fatal, é diferente e específica para cada um, embora as circunstancias do desastre sejam as mesmas para todos os envolvidos no acidente.


Isto quer dizer que a morte física de uma pessoa está intimamente relacionada com a respectiva herança cármica e suas necessidades de auto-redenção.


Aliás, tal princípio se aplica a qualquer gênero de morte ou desencarne.



VI—Ninguém, em circunstancias de morte violenta, em acidentes fatais, jamais estará desamparado, à míngua de uma assistência espiritual socorrista.


Todos são socorridos e atendidos em suas necessidades específicas, de acordo com o respectivo grau de maturidade consciencial, merecimento e a gravidade do estado pessoal de cada um.


Quando ocorre um acidente ou desastre doloroso no plano físico, imediatamente, no mundo espiritual, os Centros ou Núcleos de Pronto Socorro e Atendimento Espiritual mais próximos tomam conhecimento da ocorrência, providenciando com a máxima urgência o socorro das vítimas acidentadas que venham a morrer ou que fiquem politraumatizadas e em estado grave no local do sinistro.


Nestas circunstancias emergenciais a pessoa moribunda agonizante ou desencarnante emite pensamentos aflitivos que se propagam na multidimensionalidade extrafísica, como se fossem verdadeiros S.O.S. telepáticos, os quais são devidamente captados e registrados por meio de sofisticada tecnologia, possibilitando a imediata localização e identificação pessoal das vítimas do desastre.


Equipes de socorro espiritual dirigem-se imediatamente ao local do acidente para a prestação do respectivo socorro e demais providências de amparo assistencial.


A título de exemplo, no capítulo XVIII—Resgates Coletivos, do livro Ação e Reação, psicografado e editado pelo Espírito André Luiz, 2a. ed. FEB, páginas 236 e seguintes, encontra-se o relato de um desastre aviatório.


Qual era a situação das pessoas vitimadas?


Vários desencarnados no referido acidente encontravam-se em posição de choque, presos aos respectivos corpos físicos, mutilados parcial ou totalmente, entretanto alguns apresentavam-se em melhores condições de lucidez consciencial.


Outros sentiam-se imantados aos próprios restos cadavéricos, gemendo de dor e sofrimento, e outros ainda gritavam em desespero, mantendo-se também aprisionados aos despojos físicos, em violenta crise de inconsciência, numa profunda perturbação.


Os espíritos socorristas, médicos e enfermeiros em especial, a todos atendiam com elevado sentimento de compaixão, prestando a assistência espiritual de acordo com a situação de cada um.


Comentários elucidativos a respeito da situação de cada vítima, feitos por generoso mentor espiritual, merecem ser analisados para efeitos de esclarecimentos educativos, objetivando a autoconscientização e o autoconhecimento de cada um e de todos.


1. O socorro espiritual é ministrado indistintamente a todos, sem nenhuma exceção.


2. A expressão—"Se o desastre é o mesmo para todos, a morte é diferente para cada um", é um ensinamento importante e merece ser assimilado.


3. Nem todos podem ser retirados dos despojos físicos, cadaverizados, logo imediatamente.


4. A afirmação de que "Somente aquele cuja vida interior lhe outorga a imediata liberação", é de relevante significado educativo, pois revela a necessidade moral de se buscar o autoconhecimento e a conseqüente emancipação psicológica e emocional indispensável para maior autonomia e discernimento conscienciais, ainda em plena vida física.


Consequentemente, isto implica um processo de autoeducação pessoal, ao longo da vida, face aos grandes desafios existenciais, exigindo a autotransmutação, capaz de conferir a cada um a plena liberdade e autonomia no pensar, sentir e agir, em harmonia com as Leis da Vida, na construção da paz dentro e fora de si mesmo, e na vivência do bem incondicional.


As pessoas que se dispuseram a viver em harmonia com a cosmoética nada têm a temer diante do momento decisivo e crucial da própria morte física.


5. Aquele cuja vida consciencial se manteve em desalinho, vivendo em descompasso desarmônico com as Leis da Vida, concentrando-se no egoísmo egocêntrico, perdendo valiosas oportunidades de amar e bem servir ao próximo como a si mesmo, e, por conseguinte, ficando mais condicionado às manifestações instintivas e emocionais, sem nenhuma preocupação com os valores espirituais para o próprio crescimento e desenvolvimento consciencial, este fica apegado ao corpo físico, não tendo condições de manter equilíbrio harmônico e a lucidez consciencial indispensáveis à neutralização dos impulsos de atração e imantação energética que o retém ao cadáver mutilado.


Nestas circunstancias, o desencarnado permanecerá ligado por tempo indeterminado aos despojos cadavéricos que lhe pertencem.


6. Este tempo indeterminado está na dependência "do grau de animalização dos fluídos que lhes retêm o espírito à atividade corpórea". (p. 238).


Pode levar horas, dias ou meses até a completa e plena auto-libertação psicológica, emocional, consciencial e espiritual.


7. As expressões seguintes merecem ser meditadas por sua relevante transcendência:


a) "Corpo inerte nem sempre significa libertação da alma". b) "O gênero de vida que alimentamos no estágio físico dita as verdadeiras condições de nossa morte" (p. 238).São por demais claras e, de certo modo, contundentes, no sentido de não deixar dúvidas ou escapismos.


8. Outra expressão complementar às já mencionadas também deve ser motivo de reflexão—"Morte física não é o mesmo que emancipação espiritual" (p. 239).


9. Mas aquelas vítimas desencarnadas no desastre, as quais não têm condições de se afastar do próprio cadáver, mediante a ruptura dos laços bioenergéticos que ligam o espírito ao corpo físico, através dos respectivos centros vitais ou chakras existentes no perispírito, estas vítimas ficarão relegadas ao sabor das circunstancias, por tempo indefinido, sem nenhum outro tipo de assistência socorrista?


Jamais isto acontece.


Todas, sem exceção, são amparadas sempre.


"Ninguém vive desamparado. O amor infinito de Deus abrange o Universo". (p. 239).


10. O ser humano encarnado ou desencarnado pode, a cada momento da existência, por meio do Bem "sentido e praticado", também modificar seu próprio destino para melhor, neutralizando ações e reações negativas circanstanciais, afastando do próprio horizonte "as nuvens de sofrimentos prováveis". (p. 240).


Mas indagações se impõem.


- Quais as causas que originaram semelhante provação?


- Quais os fatores circunstanciais que direta ou indiretamente contribuíram para a morte violenta e dolorosa através de desastres ou acidentes fatais?

A resposta encontra-se nos ensinamentos luminosos e redentores do Cristo, quando afirma:


"A cada um será dado segundo suas obras" ou "Cada um colhe de acordo com o que semeia".


Este ensinamento expressa a Lei de Ação e Reação ou Lei de Causa e Efeito, também ensinada pela sabedoria milenar do Oriente como Lei do Carma.


A título de esclarecimento, poder-se-ia estabelecer possíveis correlações entre a herança cármica individual ou coletiva, para poder explicar a origem de tais acontecimentos provacionais, dolorosos e irreversíveis.

Sem pretender aprofundar o tema relativo a Lei do Carma, algumas relações podem ser estabelecidas, tais como:


a) As vitimas de hoje, perdendo a vida de modo tão trágico e violento, poderiam, em outras épocas passadas, ter cometido crimes não menos violentos também, atirando pessoas ou desafetos indefesos do "cimo de torres altíssimas, para que seus corpos se espatifassem no chão"...


b) As vítimas dos desastres de hoje poderiam ser as mesmas pessoas que em tempos passados se entregavam à pirataria, cometendo crimes hediondos em alto mar.


c) Ou suicidas que se precipitaram de edifícios ou se lançaram de elevados picos à beira de verdadeiros abismos, estraçalhando o corpo físico contra os rochedos pontiagudos, em manifesta rebeldia, insubmissão e desrespeito às leis da vida.


d) Ou também homicidas que praticaram crimes hediondos, seqüestrando e incendiando aldeias indefesas, ceifando vidas de crianças e adolescentes, estuprando e violentando mulheres para assassiná-las posteriormente com requintes de crueldade, ou que massacraram pessoas idosas sem piedade.


Quantos homens e mulheres, crianças e jovens, vivendo atualmente, em cuja ficha cármica encontram-se registrados erros e equívocos do passado próximo ou milenar, aguardando o despertar e o amadurecimento consciencial de cada um, para o indispensável trabalho educativo da própria redenção, através de novas oportunidades existenciais de trabalhar construtivamente na reconstrução do próprio destino para melhor, reencontrando as antigas vítimas e algozes de passadas existências, na condição de familiares, pais, filhos, irmãos, parentes ou amigos, para juntos viverem as lições do amor e do perdão incondicionais, sem o que não haverá paz na consciência e tampouco a plena quitação com a Lei de Deus.


11. Entretanto, é também da própria Lei Cármica que, a todo e qualquer momento, cada consciência encarnada ou desencarnada poderá modificar o próprio destino para melhor desde que se disponha a amar e servir, trabalhando na semeadura do Bem, adquirindo desta forma, pelo trabalho de auto-regeneração redentora, os indispensáveis créditos de merecimento que lhe trarão a paz consciencial, anulando os reflexos negativos decorrentes das ações infelizes do passado próximo ou remoto.


Deste modo "gerando novas causas com o bem, praticando hoje, podemos interferir nas causas do mal, praticado ontem, neutralizando-as e reconquistando, com isso, o nosso equilíbrio". (241).


12. É possível escolher o gênero de provações existenciais e até mesmo o gênero de morte?


Sem dúvida. Para tanto é indispensável ter adquirido maturidade espiritual e o merecimento indispensável para se propor e planejar uma nova existência reencarnatória, tendo em vista cooperar para o progresso e o bem comum, através de uma vida de trabalho, doação, sacrifício e renúncia, dedicando-se aos mais diversificados projetos de realização progressista, em benefício da coletividade em geral, contribuindo muitas vezes com o sacrifício da própria vida.


Assim sendo, muitos se preparam em tempo hábil, antes de uma nova reencarnação, habilitando-se para correr o risco de vida, e sofreram até mesmo morte violenta, em benefício do progresso das ciências em geral, das artes, da medicina e saúde, da indústria, da pesquisa de ponta em laboratórios e projetos de reconhecida periculosidade, em favor do progresso da navegação marítima, da aeronáutica, da engenharia, dos transportes terrestres, das viagens espaciais, da liderança política e do trabalho edificante e sacrificial no campo das reformas político-sociais, econômicas e educacionais, etc., objetivando beneficiar a sociedade em geral, promovendo direta ou indiretamente o desenvolvimento de um povo, da nação ou país na construção da paz e da justiça sociais.


Como se vê, a Lei Divina é Lei de Amor, Justiça e Misericórdia, não excluindo nenhum ser humano do direito de ser artífice do próprio destino.


13. Uma outra pergunta se faz necessária para maior elucidação do tema em estudo.




Todos terão condições de tomar esta decisão, no sentido de escolher o gênero de provação sacrificial?


Nem todos, porque a livre escolha depende do estágio de maturidade espiritual alcançado e, também, das auto-realizações no campo das ações edificantes e benéficas em prol do semelhante, das antigas vítimas do passado, dos que direta ou indiretamente foram atingidos por nossa insanidade na prática do mal.


É indispensável, pois, que cada espírito ou Eu-Consciencial já tenha adquirido a plena consciência no pensar, sentir e agir com lucidez e discernimento na mais íntima interação com as Leis da Vida, amando e servindo pelo amor à verdade, ao bem incondicional, trabalhando proficuamente na reconstrução do próprio destino, dispondo-se a viver conscientemente a lei do amor, do perdão, ida solidariedade, sem nenhum preconceito ou condicionamentos atávicos segregacionistas de qualquer espécie.


Como se vê, a liberdade de escolha está na razão direta da conquista realizada pelo próprio espírito, no sentido do auto-conhecimento e da auto-transmutação consciencial, atingindo o maior índice possível de auto-realização na construção do reino de Deus dentro e fora de si mesmo.


É pois um longo processo de maturação consciencial, a que todos estamos submetidos, ao longo das múltiplas e milenárias experiências de aprendizagem existencial através das vidas sucessivas.


Daí por que o ensinamento milenar—o ser humano é arquiteto do próprio destino.


As religiões dogmáticas e sectárias que envenenaram a mente humana com as idéias de castigo, punição, inferno, penas eternas, excomunhão, favoritismo para conquistar as benesses do paraíso celestial, prometendo a salvação mediante indulgências, penitências e atos litúrgicos sacramentais, inerentes ao culto externo e a idolatrias, ensinando o temor a Deus, contribuíram direta ou indiretamente para que o medo patológico se instalasse na mente humana, ao longo da evolução histórica da humanidade terrestre, gerando o fanatismo, a intolerância e a separação entre crentes e descrentes, criando dependências psicológico-emocionais, escravizando mentes e corações.


A liberdade de escolha está diretamente associada ao princípio da responsabilidade individual e coletiva intransferível e irrevogável.


Cada qual, com sua respectiva herança cármica, muitas vezes é submetido a diferentes provas existenciais na infância, na mocidade, na idade adulta ou na velhice, passando por experiências de mutilação reversível ou não, por enfermidades de difícil tratamento a curto, médio ou longo prazo, por acidentes dolorosos e até mesmo a morte súbita em circunstancias inesperadas e traumatizantes.


Os seres humanos que estão onerados perante as leis éticas da vida e que para se redimirem têm necessidade de viver provações e lutas expiatórias, encontram aqueles outros que se dispõem a ajudá-los através das relações familiares na condição de pais, parentes ou amigos, e que juntos se dispõem coletivamente ao aprendizado redentor, porque na maioria das vezes estão também vinculados reciprocamente por compromissos e comprometimentos cármicos específicos.


A provação coletiva desperta o sentimento de solidariedade humana, impulsionando todos a uma revisão dos valores e significados éticos do viver, descortinando a cada um novos horizontes conscienciais .


Deste modo, pode-se afirmar que, no Plano Divino da Criação, não há falhas e a Lei é de Amor, Justiça e Misericórdia, concedendo a cada um e a todos iguais oportunidades de progresso material, e espiritualmente falando, através das vidas sucessivas, na construção e reconstrução de um destino feliz.


14. E a morte por suicídio?


Doloroso equívoco cometem aqueles cuja decisão final é o apelo ao suicídio, como medida extrema para solucionarem problemas aflitivos, psicológicos, emocionais, conscienciais e existenciais.


A maior surpresa é a de que a vida não se extingue com a morte do corpo físico.


Doloroso e grave engano, porque o suicida se vê muitas vezes jungido aos despojos cadavéricos, por tempo indeterminado, através dos laços bioenergéticos que ligam o perispírito ao respectivo corpo físico em decomposição.


As sensações e emoções experimentadas pelo suicida variam de caso para caso.


Há, entretanto, algo em comum, ou seja, a constatação de que a vida consciencial é indestrutível e que ninguém burla suas leis sem assumir pesados compromissos cármicos a impor a indispensável reparação compulsória, por ter rompido, prematuramente, os elos de ligação psicobiofísica que permitiram a manutenção da vida no plano físico por uma cota de tempo compatível com as necessidades específicas de auto-realização espiritual de cada um, através do cumprimento de um plano de realizações existenciais educativo, visando à plena harmonização consciencial com as leis da vida, e na execução de projetos específicos de aprendizagens provacionais, sacrificiais, missionárias ou de resgate inadiáveis, tendo em vista a necessidade moral de construir a própria redenção.


Os relatos mediúnicos contendo informações sobre a situação do suicida após o ato cometido são unanimes em afirmar o estado de dolorosa penúria do espírito, o qual se vê num processo psicodinamico e bioenergético de recapitulação compulsiva das ações desencadeadas em decorrência do suicídio, gerando um profundo sentimento de remorso, dor e sofrimento inomináveis.


Este estado de verdadeira psicose alucinatória assume características dantescas, dramáticas e traumáticas, e na maioria dos casos o suicida sente-se mais vivo e sensível aos embates da decomposição cadavérica do próprio corpo físico.


Ora se vê no local onde o ato se consumou, ora se vê autopsiado e ao mesmo tempo preso ao túmulo, onde jazem os restos mortais sepultados.


Neste verdadeiro inferno consciencial se debate por tempo indeterminado, podendo durar dias a fio, meses ou anos até que, pela dor e sofrimento, possa despertar mais lúcido para compreender melhor o equívoco cometido. Para tanto, o remorso e o arrependimento são etapas inerentes ao despertar consciencial, seguidas de uma necessidade moral profunda de se redimir perante a própria consciência e às Leis de Deus.


Durante todo este tempo não fica abandonado pela misericordiosa assistência espiritual dos espíritos socorristas e familiares em condições de ajudar, bem como de amigos e protetores, que, amorosamente, prestam o socorro necessário, sem entretanto violar o código ético da vida.


Após esta fase crucial, à medida que for apresentando sinais de melhor receptividade e lucidez, é submetido a um complexo tratamento magnético-espiritual específico, em clinicas altamente especializadas, encarregadas de dar atendimento psicoterápico e sonoterápico, objetivando a plena recuperação do suicida.


Geralmente, a morte por suicídio produz marcas profundas no perispírito, e elas poderão determinar lesões nos respectivos centros vitais e demais órgãos perispíriticos, que irão repercutir na embriogênese e organogênese de um novo corpo físico em uma próxima e futura reencarnação.


Em conseqüência, nas futuras reencarnações o suicida poderá apresentar malformações congênitas ou doenças hereditárias irreversíveis, na maioria dos casos, renascendo em situações de excepcionalidade, exigindo muito amor e dedicação dos pais e familiares, médicos e enfermeiros, e tratamento em clínicas especializadas.


Não se deve, nestes casos, pensar em castigos ou punições divinas, mas tão-somente no cumprimento da Lei do Carma genético.


Através destas limitações morfogenéticas a curto, médio ou longo prazo, o suicida de ontem renasce em um novo corpo físico, com disfunções congênitas reversíveis ou irreversíveis, como decorrência natural das lesões registradas na memória genética perispíritica que servirão de matrizes indutoras a influenciar negativamente durante a gestação, na organogênese e morfogênese, do novo corpo físico, determinando malformações congênitas ou doenças hereditárias, correspondentes às lesões perispíriticas causadas por traumatismos, em decorrência do suicídio cometido em vidas anteriores.


A título de esclarecimento, há também casos de suicídio indireto, no qual a pessoa não tem a deliberação plena de cometer o suicídio propriamente dito, mas, pelo tipo de vida que leva, sem maiores compromissos com a saúde física e mental, expondo-se a situações de risco por imprudência, ou praticando excessos de toda a natureza, poderá morrer prematuramente, sendo, portanto, considerado também um caso de suicídio indireto.




(do livro ANATONIA DO DESENCARNE)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Homenagem à Yvone do Amaral Pereira

Para homenagear essa heroína silenciosa, médium excelente e fiel aos princípios kardecianos trazemos ao leitor uma entrevista sua, que concedeu à RIE quando ainda reencarnada. Boa leitura!



1- Ao receber a mensagem do Além, para os seus livros, você fica consciente do que escreve ou só se reconhece ao terminar?



R- A obtenção de um livro mediúnico é trabalho árduo, que mobiliza todas as forças mentais e psíquicas do médium a serviço do agente comunicante, pois, é transmissão de pensamento a pensamento. nem todos os médiuns têm as mesmas características para a recepção desse gênero de trabalho. No que me diz respeito, sofro transe pronunciando, embora, não completo. Tenho consciência de mim mesma, mas qualquer rumor exterior me poderá perturbar. Por essa razão só escrevo altas horas da noite. Vou lendo o que escrevo como se se tratasse de um folhetim que me apresentassem. O impulso do braço e atordoamento é ligeiro sem ser veloz. Às vezes, ouço o murmúrio do ditado como se o Espírito comunicante falasse aos meus ouvidos, o que facilita a recepção. Se a obra é de difícil captação, como Memórias de um Suicida e Nas Voragens do Pecado, o impulso vibratório do braço é menos rápido. Perco a noção do que me rodeia, mas não de mim mesma; somente me apercebo da tarefa que executo, por isso necessito de silêncio e tranqüilidade. Às vezes, vejo as cenas que estou descrevendo, mas só me inteiro do conteúdo da obra, verdadeiramente, depois da sua publicação.






2- Quantas obras á publicou e quais os seus autores?


R – Publicados tenho apenas onze mas possuo várias outras inéditas, esperando oportunidade para virem a lume. Os autores são os espíritos de Adolfo Bezerra de Menezes, Camilo Castelo Branco, Charles, cujo sobrenome ainda desconheço, e Léon Tolstói. Nessas onze obras estão incluídas as duas constantes do volume Nas Telas do Infinito e as duas constantes do volume Dramas da Obsessão.




3- Como e quando começou a psicografar?


R- Aos doze anos de idade já eu escrevia impulsionada pelos Espíritos, sem contudo, ter verdadeira noção do fenômeno. Sou criada em ambiente espírita desde o berço e por isso o fato nunca me impressionou. Sentia indomável impulso no braço e atordoamento, sem no entanto, se verificar o transe, e isso fora mesmo de sessões práticas. Desejava parar de escrever e não conseguia. o fenômeno parece que se processava pela psicografia mecânica. E via o Espírito comunicante, que se nomeava Roberto, afirmando ter vivido na Espanha, pelo século XIX.


Nunca procurei desenvolver a mediunidade ou a provoquei. Apresentou-se-me,ela , naturalmente, desde a infância. Apenas procurei imprimir-lhe o rumo conveniente, educando-me na moral evangélica e nas disciplinas recomendadas pela Doutrina Espírita. E comecei a psicografar livros ainda em minha juventude, recebendo o primeiro convite ao trabalho e as necessárias instruções do Espírito Camilo Castelo Branco, que desde minha infância se revelou um grande amigo espiritual. Qualquer entidade que conceda uma obra psicográfica convida o médium (não ordena) e fornece instruções. Sem esse convite será difícil senão impossível, conseguir-se alguma coisa autêntica. Pelo menos é o que acontece comigo.




4- Possui apenas o dom da psicografia ou faz alguma outra coisa dentro do Espiritismo?


R- Possuo vários outros dons mediúnicos, inclusive o de cura, os quais pus a serviço da Doutrina Espírita e do próximo desde a minha juventude. De tudo já realizei um pouco,como médium e como espírita. Atualmente, porém, como médium, limito-me à psicografia, à oratória, à colaboração na imprensa espírita, ao Esperanto, à correspondência doutrinária e a um pouco de assistência doutrinária e a um pouco de assistência social nos meios espíritas. Possuo também a faculdade de efeitos físicos (materializações),mas, não me interessando por esse gênero de trabalho espírita não a utilizo.




5- Que pretende para a vida espiritual? Ou já se afinou com ela?


R – Nenhum de nós poderá fazer projetos para a vida espiritual. Nosso futuro em Além Túmulo depende das ações praticadas durante a vida terrena, ou seja, dos méritos ou deméritos adquiridos neste mundo. Nada posso pretender, portanto, da outra vida. Cabe-me apenas esperar pela justiça e a misericórdia de Deus. Não resta dúvida, porém, de que vivo mais da vida espiritual do que da material, há muitos anos.



6- A psicologia e a Parapsicologia podem explicar cientificamente os fenômenos de psicografia?


R- Não, porque propositadamente, os investigadores contrários à tese espírita não querem explicá-los, assim como nenhum outro fenômeno espírita.

Fecham os olhos para não ver, tudo atribuindo ao inconsciente, quando o “maior livro de Parapsicologia escrito até agora é “O Livro dos Médiuns”, de Allan kardec, tal a declaração de um erudito espírita brasileiro. O fenômeno da psicografia é mediúnico, carecendo sempre de um agente espiritual independente do médium. Não havendo esse agente, isto é, o Espírito comunicante, deixará de haver psicografia. O mais que os senhores parapsicólogos têm feito é apontar fenômenos de animismo aliá-los aos fenômenos mediúnicos, ou seja, fenômenos produzidos pelo Espírito do próprio médium e não por um espírito desencarnado; nesta última hipótese a Parapsicologia para, quando devia continuar .


Os espíritas foram os primeiros a observar os fenômenos produzidos pelo animismo e nunca se sentiram diminuídos por eles. Trata-se de fenômenos belíssimos, de grande valor, provando não só a existência da alma e suas poderosas forças, mas ainda a vontade soberana dela, sua independência e lucidez fora dos limites corporais, sua ação, seu poder particular conferido pela Natureza.


Essa questão vem sendo esclarecida desde os primórdios do Espiritismo os ilustres pesquisadores e sábios psiquiatras europeus e norte-americanos, e também por vários observadores brasileiros.


Qualquer espírita, ainda que pouco versado em matéria de mediunidade, e desde que não deixe cegar pelo fanatismo, poderá realmente distinguir o fenômeno espírita do fenômeno puramente anímico, porquanto êles são absolutamente diferentes. A Parapsicologia, pois não explica a psicografia, como não explicar nenhum outro fenômeno espírita de que participe o espírito desencarnado, visto que prefere encobri-los.



7- O psicógrafo interfere na qualidade literária da mensagem?


R- Até certo ponto, sim. Se, na vida prática e em sua vida mental, ele age de forma a só atrair bons Espíritos, necessariamente as comunicações recebidas serão de excelente qualidade . Se se afinar, porém, com Espíritos ignorantes, medíocres, frívolos ou mistificadores, as mensagens recebidas (escritas ou verbais) serão suspeitas ou de má qualidade. Esse, um ponto doutrinário dos mais conhecidos e debatidos. Se o médium possuir cabedal intelectual também influirá, de certo modo, porque o agente comunicamente encontrará facilidade em usar esse material e a obra sairá mais completa. Mas há médiuns iletrados, sem serem analfabetos, que produzem obras literárias de imenso valor.


O médium norte-americano Andrew Jackson Davis, por exemplo, obteve várias obras literárias importantes, entre outras a Grand Harmony, que maravilhou o mundo; e o médium Thomas P. James, também norte-americano, um simples mecânico impulsionado pelo Espírito do escritor inglês Charles Dickens, terminou o romance O Mistério de Edwin Drood que o autor deixava a meio, ao falecer. E de tal forma o conseguiu que não foi possível determinar o ponto em que termina a obra do escritor e começa a ação do médium. Outros psicógrafos existiram, como o português Fernando de Lacerda, que escrevia mediunicamente, em prosa e em verso, conversando com amigos, com as mãos, acionado pelos escritores clássicos de Portugal. Às vezes, Fernando de Lacerda despachava com a mão direita papéis da repartição em que trabalhava, enquanto psicografava com a esquerda páginas de Alexandre Herculano, Eça de Queirós, Camilo, etc. O mesmo sucedia ao médium brasileiro Carlos Mirabelli, de S.Paulo, que psicografava com as duas mãos, também conversando, teses científicas ou filosóficas, em línguas diferentes umas das outras. E apenas cito esses, que, certamente, não interferiram, de forma alguma, na qualidade ou na ação da psicografia. Médiuns desse tipo são, porém, muito raros. O mais comum é haver influência do médium, sobretudo quando ele não observa uma disciplina rigorosa e não se empenha em bem compreender a mediunidade, a fim de exercê-la criteriosamente. O médium muito intelectualizado, por sua vez, mantendo idéias e opiniões muito pessoais, e preconceitos às vezes inveterados, poderá influir bastante, alterando o pensamento da entidade comunicante, produzindo o a que denominamos “enxerto”.


Os Espíritos elevados, que já se manifestam com obras de responsabilidade, preparam os seus médiuns longamente , por vezes desde a infância, a fim de evitar tais ocorrências. De qualquer forma, o Espírito comunicante utiliza o cabedal fornecido pelo médium. Poderá este psicografar assuntos muito superiores à sua capacidade, mas sempre existirão certas expressões particularmente suas, naquilo que produz. De outro modo, a qualidade da mensagem não depende apenas do médium, mas também do Espírito que a fornece e até do ambiente em que exerça a sua faculdade.


É trabalho penoso para ambos, e assunto complexo. O melhor meio de a palavra dos Espíritos chegar pura e de boa qualidade é procurar o médium moralizar-se, elevar-se espiritualmente, fazer-se humilde , reconhecer as próprias fraquezas e jamais se considerar excelente ou indispensável, além do dever de exercer o bem de toda parte. Eis como o médium poderá influir nas mensagens que recebe.



8- Pode descrever um pouco do estado de espírito da pessoa no momento de psicografar?


R- Quase que de regra, esse fenômeno se verifica tão inesperadamente que o médium se surpreende a aturde, mormente se o fato vem espontaneamente, sem o preparo prévio das sessões de experimentação mediúnica. Se se trata, porém, de psicografia já educada, com o médium responsável, ou da obtenção de um livro, por exemplo, quando já o médium recebeu as devidas instruções de seu Guia Espiritual; se se trata de um receituário, um conselho a particulares, etc., esse estado (em mim, pelo menos) é de expectativa, de emoção, de profundo respeito e até de religioso temor, se assim me posso expressar. Às vezes, certa inquietação sobrevém, pois que, já empunhado o lápis, com a mão apoiada sobre o papel, o médium não tem a mínima idéia do que escreverá.




Revista Internacional de Espiritismo - Nº 02 - Maio/1972



sábado, 12 de dezembro de 2009

Ciência Admirável



Qual potente farol varando a noite escura
Em que a sombra do mal reinava soberana,
Nasce o sol da verdade eterna que promana
Da mensagem do Cristo, restaurada e pura.


É o fulgor celestial da obra kardequiana
Cujas bases factuais, em lógica estrutura,
Vêm revelar a vida além da sepultura
E as vidas sucessivas na experiência humana.


Corolário moral da messe iluminista,
Surge a Ciência Admirável com seu facho forte
Tal qual no cartesiano êxtase prevista.

E a fé fez da razão o seu maior suporte
Para que o homem visse, além da própria vista,
A vida espiritual que esplende além da morte.






Aureci Figueiredo Martins, Porto Alegre/RS


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Ciência Espírita e colaboração interexistencial


Allan Kardec


Vinícius Lousada - educador

O Espiritismo sobre um ponto de vista novo




Quando Allan Kardec começou a publicar a Revista Espírita passou a fazer circular de forma mais sistemática a produção em torno de um novo campo de pesquisas: o da investigação positiva em torno do Espírito.


No contexto das academias, os cientistas se pautavam no paradigma positivista ou no espírito positivo, advogado por Comte, que pretendia superar os estados teológicos e metafísicos do pensamento humano, configurando-se num olhar investigativo guindado à apreciação sistemática dos fatos existentes.


Conforme a perspectiva adotada por esse ícone do positivismo, uma lei geral do movimento fundamental da humanidade remetia ao entendimento de que as teorias científicas deveriam aproximar-se cada vez mais da considerada realidade dos objetos de estudo, numa pretensão de verdade, controle e exatidão.


Em toda a sua obra, onde partilhava os saberes da Ciência do Infinito, Kardec ressaltava o caráter científico do Espiritismo procurando firmá-lo e difundi-lo através da rigorosidade metodológica que o seu quefazer de pesquisador do invisível exigia.


Ao afirmar que o Espiritismo é uma ciência positiva (1) , Allan Kardec queria que a Doutrina Filosófica dos Espíritos fosse apreciada por um novo prisma. Pois, segundo ele, o Espiritismo é a ciência que se ocupa, pela observação e controle do fenômeno espírita, das relações entre o mundo visível e invisível, tendo revelado com o elemento espiritual uma das leis da natureza ignorada pela ciência materialista até então: a ação do Espírito sobre a matéria.


Assim, atendendo aos critérios das ciências positivas do século XIX, sendo elaborado na observação de fatos e não em especulações hipotéticas, o Espiritismo um dia adquiriria cidadania entre as demais.



Uma ciência interexistencial


Sendo uma ciência cujo método foi elaborado por Kardec, o Espiritismo pelo próprio era definido como uma produção coletiva e progressiva. Aliás, ele jamais se intitulou o seu fundador querendo para si os louros de sua dedicação apesar da historiografia registrar, de forma inequívoca, a fundação desse campo de pesquisas pelo Prof. Rivail.


Ocorre que Kardec tinha a percepção de que as inteligências invisíveis capazes de interagirem de forma objetiva e subjetiva com o mundo material foram permitindo o registro e o controle científico de suas intervenções, dentro de uma programática superior que definia a desopacização do mundo espírita aos olhos das criaturas domiciliadas na carne.


Desse modo, o mestre foi ajustando, no processual de seu quefazer, seus pressupostos teóricos e metodológicos ao objeto de estudo, apontando uma obviedade por demais atual, ao menos no campo das ciências humanas, donde provenho: há de se considerar que a especificidade de certo objeto científico demanda uma metodologia e técnicas de investigação específicas para a apreensão do mesmo.


Essa atitude de Kardec fez com que sua pesquisa se diferenciasse e muito de outras que lhe precederam, pois, ao admitir as escolhas, a vontade, os limites e as possibilidades evolutivas das individualidades espirituais na produção das manifestações inteligentes e materiais, alargou o horizonte da investigação de modo a evitar que se enquadrasse o fenômeno espírita às estruturas conceituais rígidas e se descartasse os dados que os instrumentos, produzidos no âmbito de um paradigma materialista, comumente consideravam inválidos.


O que caracterizaria um avanço epistemológico para o campo das ciências da alma, em pleno século XIX, embora admirado pela aposta na experimentação, foi compreendido inicialmente por Richet (2), o fundador da Metapsíquica, por credulidade exagerada como, talvez, também teriam imaginado outros pesquisadores que não se aprofundaram na produção de Kardec.


Enfim, os Espíritos igualmente pautaram o trabalho científico de Kardec a partir de suas manifestações que, em pleno tempo de elogio à razão e à experimentação, organizaram verdadeira invasão ao mundo dos denominados vivos afetando os horizontes culturais da Ciência à Religião.


E, no que tange à composição do conteúdo filosófico do Espiritismo o mestre Allan Kardec teve o cuidado de estabelecer dois critérios de exame: o da razão e o do controle universal do ensino dos Espíritos.


A razão, ou o bom senso, era adotada como filtro principal, afastando o conhecimento produzido, em regime de colaboração entre médiuns, Espíritos e Kardec, de qualquer mescla com superstições ou dogmas.


O segundo critério, o do controle universal, demonstra que o Espiritismo não é fruto de uma concepção individual, da opinião de um sábio ou um Espírito, apenas. Aliás, característica marcante do fazer científico consiste no regime de colaboração, de partilha de saberes mediante a comunicação de métodos, experiências, dados e análises nos diferentes campos de pesquisa, ou seja, a produção coletiva.


Para levar a efeito tal controle, Kardec se utilizava de variados médiuns e Espíritos, entre comunicações espontâneas e evocações, para apreender a solução de diversos problemas filosóficos e questões sobre o mundo dos Espíritos a fim de comparar, após a análise severa da razão, o conteúdo daquelas e, com base na concordância coletiva, estabelecer os princípios da Doutrina Espírita.



ESTUDANDO KARDEC


“Se há um meio de chegar à verdade, seguramente é pela concordância e pela racionalidade das comunicações, auxiliadas pelos meios que temos à nossa disposição para constatar a superioridade ou a inferioridade dos Espíritos. Ao deixar de ser individual para se tornar coletiva, a opinião adquire um maior grau de autenticidade, já que não pode ser considerada como resultado de uma influência pessoal ou local. Os que ainda se acham em dúvida terão uma base para fixar as idéias, porquanto será irracional pensar que aquele que em seu ponto de vista está só, ou quase só, tenha razão contra todos.” (3)


Charles Richet

Notas:

(1) KARDEC, Allan. O espiritismo é uma ciência positiva. In: KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Ano sétimo – 1864. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2008, P. 434.

(2) MAGALHÃES, Samuel Nunes. Charles Richet: o apóstolo da ciência e do espiritismo. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2007, p. 160.

(3) KARDEC, Allan. Controle do Ensino Espírita. In: KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Ano sétimo – 1862. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2008, P. 36.