José Artur Maruri[1]
Vinícius Lousada[2]
“Há um elemento, que se não costuma fazer
pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria.
Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral.
Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na
arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto
dos hábitos adquiridos.” – Allan Kardec (O Livro dos Espíritos, questão 685-a)
A EDUCAÇÃO MORAL
ENTRE RIVAIL E KARDEC
Allan Kardec era o pseudônimo
adotado pelo Professor Rivail, eminente educador francês e discípulo de
Pestalozzi, utilizado quando fundou a Filosofia Espírita com a publicação de O Livro dos Espíritos, em pleno século
XIX, na “cidade-luz” Paris, num período político entre Napoleões.
O Livro dos Espíritos fez com que a gema
preciosa apresentada pelos imortais se desentranhasse da pedra bruta da
experimentação dos fenômenos espíritas, que passaram de objeto de diversão nos
salões parisienses e europeus a objeto de observação do mais rígido espírito
positivo da época para, posteriormente, formar toda uma filosofia ensinada
pelos Espíritos interlocutores de Kardec, nas sessões espíritas em que o mestre
se dedicou a pesquisar as relações que se podem estabelecer com os Espíritos.
Antes de estabelecer sua
investigação em torno dos fenômenos psíquicos e espirituais, futuro objeto de
estudos da Metapsíquica e, mais tarde, da Parapsicologia com Rhine, o professor
Hippolyte-Léon Denizard Rival empreendeu seus esforços profissionais na obra da
educação, particularmente na condição de mestre-escola e escritor que difundia,
na prática educativa e nas reflexões teóricas propostas, o método postulado por
Pestalozzi, educador suíço que fora mestre de Rivail, por sua vez,
profundamente inspirado nos escritos do filósofo Rosseau.
A Educação Moral já fora objeto de
estudos de Kardec como educador, quando propunha em alto e bom tom ao se
referir às impressões que a criança recebe daqueles que tem a incumbência de
educá-la, chegando a afirmar: “Toda prudência se faz necessária quanto à
conduta que temos diante das crianças, pois facilmente criamos nelas uma boa ou
má impressão”.[3]
Cabe ressaltar que as investigações da Psicologia não eram suficientes sobre o
tema, mas Rivail intuía a apreensão, por parte da criança, da “linguagem moral”
habitualmente adotada pelos adultos que dela se acercavam. Era preciso ao
educador moralizar-se para incutir, pelo exemplo e pelos processos educativos
que estabelecia junto à infância, bons hábitos que superassem os comportamentos
ambíguos ou frágeis produzidos pela má-educação, oriunda da hipocrisia
religiosa da época, com o seu moralismo ultrajante, ou do descaso de mestres
incautos.
EDUCAÇÃO MORAL EM
DIÁLOGO COM A ÉTICA
Como
dito anteriormente, é preciso que o educador moralize-se para incutir bons
hábitos. No entanto, um dos caminhos para tal moralização pode ser encontrado
através do agir sob a ética.
Mas
quando nasce a ética? Para Marilena Chaui[4],
na obra Convite à Filosofia, a ética, também chamada de filosofia moral, nasce
quando, além das questões sobre os costumes, também se busca compreender o
caráter de cada pessoa, isto é, o senso moral e a consciência moral
individuais.
Em
o Livro dos Espíritos encontramos na questão 625 a indicação oferecida pelos
Espíritos Superiores de qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem,
aquele que lhe pudesse servir de guia e modelo e a resposta foi simples: Jesus.
Nele,
segundo observação de Allan Kardec, encontramos, “o tipo da perfeição moral a
que a humanidade pode aspirar na Terra”.
Mas
como chegar lá? O próprio Livro dos Espíritos, na questão 919, aponta o meio
mais prático para o homem melhorar nesta vida; e ele segue para um sábio da
antiguidade que assim referiu: “conhece-te a ti mesmo”.
Através da ética exposta desde a
antiguidade e que foi ministrada, inclusive, por Jesus, adquirimos a condição de
dar conta racionalmente da dimensão moral humana, aumentando o conhecimento
sobre nós mesmos.
Enfim,
o próprio Allan Kardec[5],
na obra A Gênese, acaba por concluir que “a regeneração da Humanidade não exige
absolutamente a renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas
disposições morais”.
Dessa
forma, só podemos falar em regeneração da Humanidade se observarmos como anda a
nossa Educação Moral. Bem como disse o Espírito Fénelon[6],
em Poitiers, no ano de 1861, “a revolução que se apresta é antes moral do que
material”.
[1]
Advogado, colaborador do Caminho da Luz. E-mail: josearturmaruri@hotmail.com
[2]
Educador, editor do blog saberesdoespirito.blogspot.com. E-mail: vlousada@hotmail.com
[4]
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ática 2008, p.310.
[5] KARDEC, Allan. A Gênese. FEB
Editora. Item 33. p.534.
[6]
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB Editora. Item 10. p.69.