José Artur M. Maruri  dos Santos
Colaborador da União  Espírita Bageense e Advogado
Diante das vivências relatadas pelo  Espírito Camilo Cândido Botelho através da mediunidade de Yvonne A. Pereira, nos  deparamos com a narrativa de seu suicídio, como se deram as horas iniciais ao  ato supremo, para onde ele foi enviado após a sentença lavrada por sua própria  “justiça” e como ele recebeu o auxílio após anos encontrando-se  errante.
Porém, quem cumpriu a determinação do  Altíssimo e auxiliou o Espírito Camilo na sua rogativa por piedade após o  desfalecimento de seu corpo físico? Quem adentrou àquele vale sinistro em um  “trem caravaneiro” e recolheu Camilo e outros afins que se compraziam naquele  cenário sombrio e denso?
Pasmem, caríssimos irmãos, eram criaturas  criadas por Deus, como nós. Trabalhadores, abnegados, da obra de Jesus, assim  como nós poderemos vir a ser, um dia. 
Ao contrário do que muitos pensam, não se  tratavam de anjos, escolhidos por Deus, sem critério algum. Não se tratavam de  figuras clarinhas, com os olhos azuis, asas no dorso e auréola sobre a cabeça.  Eram apenas Espíritos em evolução, cumprindo tarefas, sob os desígnios de  Deus.
Allan Kardec, em O Céu e o Inferno,  refere “que haja seres dotados de todas as qualidades atribuídas aos anjos,  disso não se poderia duvidar. A revelação espírita confirma sobre esse ponto, a  crença de todos os povos, mas nos faz conhecer, ao mesmo tempo, a natureza e a  origem desses seres”.
No caso específico do Espírito Camilo,  este foi resgatado diretamente no vale sinistro pela Legião dos Servos de Maria,  conforme relatado por suas próprias palavras na obra Memórias de Um Suicida:  “Supúnhamos tratar-se, a caravana, de um grupo de homens. Mas na realidade  eram Espíritos que estendiam a fraternidade ao extremo de se materializarem o  suficiente para se tornarem plenamente percebidos à nossa precária visão e nos  infundirem confiança no socorro que nos davam. Trajados de branco,  apresentavam-se caminhando pelas ruas lamacentas do Vale, de um a um, em coluna  rigorosamente disciplinada (...). Precedia, porém, a coluna, pequeno pelotão de  lanceiros, qual batedor de caminhos, ao passo que vários outros milicianos da  mesma arma rodeavam os visitadores, como tecendo um cordão de isolamento, o que  esclarecia serem estes muito bem guardados contra quaisquer hostilidades que  pudessem surgir do exterior. Com a destra o oficial comandante erguia  alvinitente flâmula, na qual se lia, em caracteres também azul-celeste, esta  extraordinária legenda, que tinha o dom de infundir insopitável e singular  temor: - LEGIÃO DOS SERVOS DE MARIA”.
O que se sabe, mediante o ensinamento  trazidos pelos Espíritos que se comprazem em auxiliar aqueles que buscam servir  a Jesus humildemente, é que o Espírito foi criado simples e ignorante, sem  conhecimentos e sem a consciência do bem e do mal, mas com aptidão a adquirir  tudo o que lhe falta. Igual a uma criança, nas fases primeiras de sua  existência, é falível. Kardec relata que Deus não lhe dá a experiência, mas lhe  dá os meios de adquiri-la. É assim que, pouco a pouco, se desenvolve, se  aperfeiçoa e avança na hierarquia espiritual, até que tenha alcançado o estado  de puro Espírito, ou anjo.
É importante que se diga, também, que  “antes de atingirem esse grau supremo, gozam de uma felicidade relativa ao  seu adiantamento, mas essa felicidade não é a ociosidade; é a das funções que  apraz a Deus confiar-lhes e que são felizes em desempenhá-las, porque essas  ocupações são um meio de progredirem” (O Céu e o Inferno, p.  73).
Ora, Deus jamais esteve inativo, ao  contrário, Ele sempre tem Espíritos, experimentados e esclarecidos, para a  transmissão das suas ordens e para a direção de todas as partes do Universo, não  teve, pois, necessidade de criar seres privilegiados, isentos de obrigação.  Todos, inclusive nós outros, conquistaram e conquistam seus graus na luta que  melhor lhe apraz.
Estamos em igualdade de condições com  todos os seres criados pelo Pai. O que nos diferencia, porém, são nossas  próprias escolhas, porque até mesmo nisso Deus é perfeito, jamais retirou-nos o  livre-arbítrio. E na utilização deste, é que ainda nos mantemos atrasados e com  dificuldades para colocar em prática as leis do amor e da caridade para com o  nosso próximo, divulgada com muito carinho pelo Mestre Jesus há mais de dois mil  anos.
Pior que isso, nos revoltamos, como  crianças rebeldes que ainda somos, com os desígnio de Deus, porque ainda não  entendemos o propósito maior. Temos, ainda, uma visão deturpada e turva, tal e  qual o nosso Espírito amigo Camilo detinha à época que resolveu pôr termo à sua  existência que, ao contrário do que parecia, era uma oportunidade única de se  refazer e galgar degraus mais altos em sua evolução.
Roguemos ao Pai os “olhos de ver” para  que possamos focar no todo, no eterno, no perene. Peçamos ao Pai a graça de  poder observar dentro de nós mesmos, no intuito de que nos indaguemos se não  somos os culpados pelas mazelas enfrentadas. Que o Pai nos conceda, em Sua  infinita bondade, olhos para observarmos que os nossos sofrimentos não são  causados pelo próximo, são causados pelo nosso orgulho e o nosso egoísmo, os  quais são antagônicos à humildade e à caridade. Afinal, somos o espelho dos  nossos algozes, pois só conseguimos visualizar neles aquilo que ainda possuímos  arraigados em nosso coração. 
Irmãos, como o Mestre Jesus um dia nos  pediu, nos rebaixemos agora, para que possamos ser elevados, com méritos e  louvores, por estas criaturas Divinas, denominadas por nossa pobre linguagem de  anjos, num futuro não muito longe, no Reino de Deus, onde o nosso cartão de  entrada será o bem que tivermos praticado ao nosso próximo e a nós  mesmos.
Como bem disse Emmanuel, através da santa  mediunidade de Francisco Cândido Xavier: “O bem que tiveres praticado em algum  lugar, será teu advogado em toda parte”.

 
