articulista e dirigente do IETRD (http://institutoesp.blogspot.com/);
Bacharel em Direito, aposentado.
Bacharel em Direito, aposentado.
“Aceito Cristo e os Evangelhos, todavia não aceito vosso cristianismo. (Ghandi)
Quando mergulhamos na essência da mensagem de Jesus, torna-se-nos evidente a desconformidade das prédicas e práticas adotadas pelas religiões autoproclamadas “cristãs” com os lídimos ensinamentos do Excelso Mestre.
Chego até a pensar que, se Jesus voltasse hoje ao nosso ainda penumbroso plano terrenal, cristão ele não seria. Registre-se de passagem que Jesus era detestado e anatematizado pelos religiosos por não observar as exterioridades do farisaísmo da sua época.
Em parte alguma dos Evangelhos detectei Jesus vestindo paramentos, praticando rituais ou ministrando sacramentos ou quaisquer outras formas de culto exterior. Estas práticas litúrgicas foram criadas a pouco e pouco pelo cristianismo histórico, a partir da declaração, no século IV, do cristianismo como religião oficial do Império Romano pelo imperador e “pontifex maximus”, Constantino. Desde então o cristianismo passou de perseguido a perseguidor e os crimes e desmandos “ad majorem Dei gloriam” cometidos sob a capa da religião mancharam com sangue e lágrimas a história da Humanidade por muitos e muitos séculos.
Se Jesus orava a Deus, como pôde ser confundido com a Divindade? Se assim fosse, teríamos Deus orando para si mesmo? É bom lembrar que o Mestre ensinou-nos a dirigir nossas preces ao “Pai Nosso” e, quando um jovem rico o chamou “Bom Mestre!”, ele respondeu: “Por que me chamais bom?” E concluiu: “Bom só Deus o é!”.
Nas minhas observações, que confesso perfunctórias, não encontrei Jesus fazendo preces de abertura e de encerramento das suas atividades missionárias e quando orava dirigia-se ao Criador em silêncio e profundo recolhimento íntimo, usando expressões que lhe vinham ao coração e à mente naqueles momentos especiais.
Quanto aos chamados “milagres” a ele atribuídos, sabemos hoje que eventos sobrenaturais não podem acontecer, pois que todos os fenômenos que ocorrem, a qualquer tempo ou lugar, são perfeitamente afinados aos mecanismos causais das leis naturais, tão perfeitas e inalteráveis como o legislador que as estabeleceu: Deus. Tanto é assim, que Jesus declarou não ter vindo derrogar a lei, e que tudo o que ele fazia nós também poderíamos fazer...
Relativamente à chamada ressurreição de Lázaro, lê-se que, ao receber a notícia da morte do irmão de Marta e Maria, Jesus teria dito: “Lázaro não está morto; ele dorme”, evidenciando que seu amigo de Betânia estava num estado morte aparente, cataléptico. Quando o corpo morre, o espírito que o animava (alma) desliga-se da carne e, na condição de desencarnado, continua mais vivo do que antes.
Lê-se na pergunta 625 d’O Livro dos Espíritos: - Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo? Resposta - “Vede Jesus.” E Kardec comenta – “Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava”.
Penso, concluindo, que Jesus não fundou religião alguma, pois que o Excelso Mestre, ao proclamar a libertação pelo conhecimento, estabeleceu as bases de uma filosofia vivencial espiritualizada, que impele a cada um de seus seguidores pelas trilhas luminosas do autoconhecimento, base da crença raciocinante que os induz a sempre crescente progresso intelectual e moral, sustentáculo da conduta reta e fraterna que se reflete positivamente na coletividade humana, encarnada e desencarnada.
Feliz Natal!