Podemos definir a fé como sendo a confiança e a certeza na realização de um determinado objetivo.
Do ponto de vista religioso, a fé consiste nos dogmas que constituem as mais diferentes religiões. Jesus, O Mestre Sublime, afirmou que se tivéssemos fé do tamanho de um grão de mostarda diríamos a uma montanha para se transportar de um local para outro e a montanha obedeceria.
Percebe-se na lição do Mestre que mesmo possuindo uma fé de mínimas proporções estaremos capacitados a remover as montanhas da dificuldade, da imperfeição, do egoísmo, da intolerância e da dor que impedem a nossa transformação para melhor.
Todavia, para a Doutrina Espírita, cujo fundamento é a imortalidade da alma e a busca do aperfeiçoamento através das vidas sucessivas, reencarnação, qual o verdadeiro sentido da fé?
Afirma Allan Kardec, o notável codificador da Doutrina Espírita: "Fé inabalável somente aquela que pode encarar frente a frente a razão, em qualquer época da humanidade".
Podemos ver que a Doutrina Espírita vem demonstrar que a religião não deve se encontrar em pólo oposto ao da razão. Para que o homem, espírito reencarnado, efetivamente possa evoluir, deve estabelecer um equilíbrio entre o progresso intelectual e o aprimoramento moral.
Num primeiro momento, o racionalismo parece se contrapor a fé, se considerada em seu aspecto dogmático. Porém, a fé raciocinada, defendida pela Doutrina Espírita, estabelece, pela razão e pelo conhecimento, um elo de ligação entre ciência e religião.
Ensina-nos que tudo na natureza possui uma explicação lógica, alcançada ao longo dos séculos pelas pesquisas científicas. Afasta-se, assim, a ideia do sobrenatural.
Em "O Livro dos Espíritos", Kardec indaga na questão 4, onde encontrar a prova da existência de Deus. A resposta dada pelos Espíritos é simples e objetiva: "Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a razão responderá."
Portanto, a fé racional precisa de uma base que é a inteligência perfeita daquilo que se deve crer, de onde se conclui que para crer não basta ver, é preciso compreender.
A fé espírita está centrada na razão e, por isso, pode examinar o objeto da fé. Fé raciocinada é aquela que permanece em constante e permanente contato com a razão, buscando sempre um saber mais amplo através da argumentação e do questionamento.
A fé espírita não é fechada, é preponderantemente construída no diálogo e na aproximação que deve existir entre o saber humano, científico, filosófico e o saber espiritual, fator que irá determinar a transformação do homem pelos seus sentimentos.
Sendo a fé espírita constituída pela reflexão do progresso científico em sintonia com as leis divinas, pode efetivamente encarar a razão frente a frente em qualquer período da história da humanidade.
A fé: Mãe da esperança e da caridade.
A fé sem obras não terá valor, mesmo sendo racional. Será morta como afirmou o apóstolo Tiago. Só o conhecimento não transforma ninguém integralmente. É vital aplicarmos o que estamos apreendendo e o que já sabemos para a transformação do mundo em nossa volta, partindo da transformação interior para posteriormente colaborarmos na transformação de nossos semelhantes.
Transformar em obras materiais e espirituais o que apreendemos, eis o benefício que podemos fazer ao próximo e que, com certeza, reverterá em nosso benefício.
É ainda o mestre Allan Kardec que nos orienta: "Fora da caridade não há salvação".
Paulo de Tarso, o convertido de Damasco, com sua fé inquebrantável em Jesus compreendeu esta grande verdade e afirmou: "Ainda que eu falasse a língua dos anjos, se tivesse o dom da profecia, penetrasse todos os mistérios, tivesse toda a fé possível, até a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade nada serei".
Observemos os ensinamentos e as ações de Jesus, tenhamos fé em suas orientações, acreditemos ser possível a transformação do mundo a partir de nossa própria transformação, tendo por ferramenta o autoconhecimento.
Ayr Nogueira dos Santos
Servidor Público Federal
Integrante da Sociedade Espírita "O Bom Samaritano"