quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Verdades e Verdade

Larissa Carvalho
Historiadora


No capítulo XXI do Evangelho Segundo o Espiritismo, o espírito Luís transmite uma esclarecedora mensagem que contém, em seu âmago, a seguinte frase: “Desconfiai dos que pretendem ter o monopólio da verdade! Não, não, o Cristo não está entre esses, porquanto os que ele envia para propagar a sua santa doutrina e regenerar o seu povo serão, acima de tudo, seguindo-lhe o exemplo, brandos e humildes de coração”.

Esse alerta do espírito Luís refere-se aos falsos Cristos e falsos profestas, mas o monopólio da verdade, na atualidade, não é apenas reivindicado por um sujeito em especial, mas muitas vezes por instituições de muitos indivíduos que pensam usufruir do monopólio da verdade. Vemos isso em associações científicas, em credos religiosos variados, em grupos teórico-doutrinários que pensam serem os únicos detentores do saber absoluto, da verdade universal. Ela, a verdade, não é monopólio de alguns, mesmo que estes considerem-se e sejam considerados, aos olhos materiais do mundo, como notáveis e mesmo sábios.

As palavras do Espírito são claras. Ele nos alerta para desconfiarmos dos que pretendem ter o monopólio da verdade. Isto é, daqueles que se acham os seus únicos detentores. A verdade, assim definida, não é apenas de um grupo, ou de alguns sujeitos. Não são apenas alguns indivíduos que a possuem. Diz um provérbio oriental que a verdade é um espelho que caiu das mãos de Deus aqui na Terra e se espatifou. Cada um de nós toma de um pedaço e crê que toda a verdade está neste caco. Cada um de nós possuímos um “caco” de verdade que é, em realidade, aquilo que refletimos na “verdade” que tomamos para nós, ou seja, enxergamos a verdade mediados pelo nosso modo particular de ver o mundo, pela educação que recebemos, pela cultura em que estamos imersos, pelas experiências reencarnatórias que adquirimos ao longo de nossas vidas sucessivas.

Além do que, conforme nos alerta o Espírito Pascal em comunicação publicada na Revista Espírita de maio de 1865, “há duas verdades: a verdade relativa e a verdade absoluta; a verdade relativa é o que é; a verdade absoluta é o que deveria ser” . O que significa que aquilo que temos como verdade hoje, deve ser sempre inserida em seu contexto histórico-social, diz respeito as coisas mutáveis do mundo. Já a verdade absoluta está intrinsecamente ligada a perfeição do Pai Celeste, portanto, imutável, mas também inalcançável para nós outros.

Assim, não nos é permitido condenar a “verdade” de um irmão, ridicularizando-o por isso ou usando de intolerância para com nosso próximo. Todos possuímos cacos de verdade que somente unidos representarão uma imagem mais próxima do que deve vir a ser a verdade absoluta, que rege nossas vidas imortais e nos traz respostas para tudo e para o que ainda nos é oculto. É a partir da união, da fraternidade entre os espíritos encarnados e desencarnados, das trocas de conhecimento moral, intelectual, de experiências no bem que agiremos com eficiência em busca da verdade.

No entanto, o Pai não nos abandona sem farol no oceano de dúvidas que atracarão no porto da verdade absoluta. Em todos os tempos ele nos envia verdadeiros profetas, no sentido lato da palavra, significando aquele que fala das verdades do Pai. Esses, que vem trazer-nos notícias das verdades eternas, aquelas que nos servirão para o futuro imortal, serão humildes e brandos, isto é, não imporão a verdade, mas falarão dela com ternura, reconhecendo sua pequeneza e de toda a humanidade na Terra. Não se acharão melhores que nós outros, mas verão em cada um de nós irmãos. Eles serão modestos , não bradarão que são os detentores da verdade, nem proporão que compartilhemos dessa verdade de forma privilegiada, porque seus ensinamentos serão visíveis e palpáveis a todos homens e mulheres com ouvidos de ouvir. Mas o que realmente bradará aos nossos corações serão seus atos, seus exemplos, que também não serão alardeados, mas por nós serão reconhecidos. É o bom fruto da árvore boa de que fala Jesus .

Francisco Cândido Xavier pode ser considerado um desses profetas de Deus. Como medianeiro da Espiritualidade com os homens, lembrou-nos das verdades espirituais através das vozes dos Espíritos que, através dele, nos deram notícias do Mundo dos Espíritos e nos alertaram quanto ao que devemos realizar para possuir o Reino de Amor e Paz prometido por Jesus. Esse apóstolo da Verdade nunca exigiu que acreditássemos nele, não intitulou-se Mensageiro, Escolhido, mesmo Profeta de Deus, em nenhum momento considerou salvo os espíritas nem alegou que já sabíamos de tudo. Dizia-se um cisco, brincando com seu próprio belo nome, e nessa simplicidade legou-nos um dos maiores exemplos concretos de amor e devoção ao próximo.

Deduzimos em Chico um Profeta do Pai a quem devemos buscar seguir o exemplo unindo-nos todos verdadeiramente como irmãos que somos a fim de, juntos, seguirmos em rumo ascendente à Verdade Absoluta, pois a verdade relativa, respeitando a Lei do Progresso, deve sempre estar no caminho da estrada correta que nos leva ao Pai. E confiemos Nele, pois se Ele é todo Poder, todo Bondade, todo Amor, Ele é também toda a Verdade que desejamos conhecer para a realização plena da Felicidade a que estamos fadados.