domingo, 1 de agosto de 2010

Autoconhecimento


Vinícius Lousada


“O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual" (1)


A temática do autoconhecimento é de máxima relevância para todo aquele que deseja trilhar o caminho da paz no planeta interno.

Esse exercício permite ao indivíduo desenvolver um estado de plena consciência ao que se refere às imperfeições morais que precisa corrigir, tendo em vista o processo de aprimoramento pessoal que lhe cabe perseguir, atendendo ao chamado íntimo da busca de plenitude.

Encontramos, em O Livro dos Espíritos, o mais excelente roteiro para esse tentame educativo descrito de forma simples, mas profunda, nas sábias palavras do luminar Santo Agostinho.

Num primeiro momento, o benfeitor espiritual propõe uma atitude de recolhimento interior para que, ao fim do dia, venhamos fazer um questionamento à nossa consciência sobre o modo como realizamos nossas ações e deveres cotidianos.

A forma com que estamos lidando com o dever revela o grau de maturidade já logrado. Espíritos imaturos procuram driblar as exigências do dever bem cumprido, enquanto Espíritos mais desenvolvidos assumem uma atitude radical ante os deveres, fazendo tudo pelo melhor a ser realizado.

Obviamente o autor da resposta à questão 919 do Livro-luz não deixa de destacar o valor da oração como uma ferramenta útil ao processo de conhecer a si mesmo.

A prece é um recurso auxiliar para o sujeito que se dedica à auto-análise e, através dela, ele pode contar com a inspiração de Deus e do seu Espírito Protetor para estudar-se criticamente, a fim de esclarecer-se a respeito do bem ou mal que houvera feito.

Na jornada psicológica para dentro de si, é fundamental a problematização a respeito do conteúdo e do objetivo das nossas atitudes.

No ato de problematizar merecerá atenção “o que” estamos realizando e “onde” queremos chegar agindo desta ou daquela maneira. Como diz o próprio Santo Agostinho: “Formulai, pois, de vós para convosco, questões nítidas e precisas e não temais multiplicá-las.” (2) 

Cabe-nos investigarmos se estamos agindo eticamente, ou seja, se o objetivo e conteúdo de uma certa atitude atendem à diretriz ética de levarmos em conta a felicidade de todos os seres sencientes.

Quanto às conseqüências de nossas atitudes, há a sugestão de que as examinemos mediante alguns crivos indispensáveis ao juízo de valor, o mais perfeito possível. Temos obrado dentro das orientações que a consciência aponta como expressão fiel das Divinas Leis? Como agimos em relação ao próximo nas mais diversas circunstâncias? Trabalhamos a favor de nossa felicidade ou contra ela?

Nosso Mestre Jesus afirmou, oportunamente, que “cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto.” (3) Portanto, o exame ético das atitudes e de seus resultados concederá àquele que se investiga a possibilidade de reconhecer, sem os véus da ilusão, a sua condição espiritual através da identificação dos elementos que cultiva no âmbito de sua natureza moral.

O Espírito Agostinho nos alerta para darmos a devida atenção às respostas que surgem na mente. Elas nos darão tranqüilidade ou “a indicação de um mal que precise ser curado.”

Despertos ao imperativo de jornadearmos conscientemente o processo da evolução, será de bom alvitre a assunção do dever de perscrutarmos corajosamente a consciência com questões claras e precisas.

Naturalmente, as dúvidas surgirão no transcorrer dessa caminhada em direção à autoconscientização. Nosso ego produz mecanismos de defesa que nos induzem à percepção errada sobre nós mesmos, desviando-nos do auto-encontro, postergando essa tarefa libertadora rumo ao mais profundo do ser. E, nesse caso, o que fazer?

Segundo a questão em análise, podemos lançar mão da seguinte estratégia: inquirirmo-nos sobre como qualificaríamos determinada ação, realizada por nós mesmos, se fosse feita por outra pessoa.

Por outro lado, apresentar a dúvida aos nossos amigos de verdade escutando o que pensam a respeito seria uma alternativa valiosa. Todavia, se a incerteza persistir, indaguemos aos nossos supostos inimigos... É verdade, você não leu errado não!

Aqueles que se inimizam conosco ou que simplesmente não sintonizamos, por não terem nada a perder, comumente dizem o que pensam e, conforme a orientação para o autoconhecimento do Espírito Agostinho, têm condições de nos ajudar a avaliarmos o nosso comportamento.

Essa metodologia de conhecer a si mesmo, exarada na obra fundamental da Codificação Espírita, é a chave que todos temos ao alcance – sem gurus de ocasião – para o progresso individual.

Trata-se de uma maneira prática, sem teorizações desnecessárias, para que passemos, pouco a pouco, a identificar realmente quem nós somos de fato.

Consiste também numa metodologia apropriada ao desenvolvimento da resistência aos atrativos que os abusos das paixões apresentam em função da invigilância costumeira com que transitamos quando mergulhados no corpo somático.

Ao passo que percebamos determinada imperfeição moral, trabalhemos pela sua superação. Identificando virtudes devidamente assimiladas em nossa conduta, invistamos as forças em praticá-las constantemente.

Reconhecendo as aprendizagens que se fazem necessárias e os valores intelecto-morais já adquiridos pelo bom aproveitamento das vivências que a morada temporária na carne nos concede, dirijamo-nos à felicidade que pode ser granjeada pela dedicação, em apenas alguns minutos diários, ao autoconhecimento.


(1) O Livro dos Espíritos, questão 919.

(2) O Livro dos Espíritos, questão 919.

(3) Lucas 6:43.