segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Educação e Ambiente





 
Vinícius Lousada



A ecologia não deverá ser dissociada da educação, a fim de que alcance os seus enobrecidos objetivos sobre o mundo.- Camilo

A temática ambiental é uma das questões que mais está em voga na atualidade. É pauta de discussões e ações dos movimentos sociais, consiste em conteúdo nas escolas, faz-se tônica na produção de algumas leis em defesa do ambiente, dos seres vivos e, ao mesmo tempo, impõe-se como assunto prioritário nos encaminhamentos e definições sobre desenvolvimento nas sociedades humanas.

Marcada por múltiplas tendências teóricas e metodológicas, pela heterogeneidade de princípios, as ações coletivas que delineiam o ambientalismo têm em comum a defesa e preservação da vida em nossa Casa Planetária.

Infinidade de almas, centradas na concepção da Natureza como um bem, afinadas com um sentimento de profundo respeito em relação à Mãe-Terra, têm se disposto a lutar, mediante suas práxis, pela construção de políticas públicas, de elaboração de órgãos oficiais e não-governamentais de orientação local e global, na tentativa de propor meios alternativos de desenvolvimento sócio-econômico que entenda a vida como um valor em si mesma.

Inspirados por inteligências enobrecidas do mais-além, esses lidadores da questão ambiental vêm estruturando tratados entre governos, cartas de compromisso por parte dos povos, promovendo e pesquisando meios de educar as massas e inverter a lógica egotista do “lucro sem freios” geratriz de tanta destruição, cumprindo todos nobilitantes tarefas junto a esta digna causa.

Esses Espíritos comprometidos com a questão ambiental dão à vida a sua contribuição, tentando sensibilizar seus pares, alertando-os dos riscos do enfraquecimento da camada de Ozônio, do desmatamento da Amazônia e de outras florestas, despertá-los para a realidade da futura escassez da água potável causada pela poluição e desperdício das águas; ou, ainda, à proteção de espécies quase extintas e dos ecossistemas – viveiros naturais de várias espécies, etc.

Quando Allan Kardec interrogou aos Espíritos da Codificação sobre o “Que se deve pensar da destruição, quando ultrapassa os limites que as necessidades e a segurança traçam?” Alcançou uma alarmante resposta da qual reproduzirei a parte que nos interessa na questão. Dizem os Espíritos: “Predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual. Toda destruição que excede os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus.(...) [o homem] Terá que prestar contas do abuso da liberdade que lhe foi concedida, pois isso significa que cede aos maus instintos.” (1)

Desta forma, notamos na elucidação dos Espíritos que a humanidade se atira à destruição indevida do seu oikos (casa) porque se deixa dirigir por sua remanescente bestialidade, ou seja, pela animalidade que ainda conduz no imo da alma, herdeira que é da conduta moral que historicamente tem se afeiçoado.

Abusando de sua liberdade de pensar e agir, dando vez à sua inferioridade, é que os homens e as mulheres dão-se ao luxo de agredir seu Planeta, de eliminar a vida em suas formas mais singelas às mais complexas e é assim que acabam por violar a Lei Natural, desequilibrando a harmonia do sistema em que vivem – sistema complexo que não deve ser compreendido apenas como a soma de suas partes, mas também como as inter-relações entre suas partes e destas com a totalidade –, gerando desmedida destruição da qual, pela lei de causa e efeito, receberão as conseqüências no circuito das vidas sucessivas.

Penso que precisamos nos conscientizar de que “Compartilhamos a vida com outros seres da vida, somos todos o todo e a parte de uma mesma dimensão de tudo o que existe.” (2) Vivemos em interdependência relacional com os demais seres vivos existentes e com os outros de nossa espécie, por isso, nesse compartilhar e conviver da existência, influenciamos e somos influenciados pelos outros, pelo nosso ecossistema, bem como pelo produto de nossas ações sobre a Natureza. E em virtude de um axioma básico da vida, desculpem-me a obviedade, colhemos o que plantamos em tudo o que fazemos.

Isto me faz recordar uma célebre afirmação atribuída a um chefe indígena americano que a teria postulado nestes termos: “Tudo está entrelaçado. Tudo o que acontece à terra, acontecerá aos filhos da terra. O homem não teceu a trama da vida, ele é apenas um fio.” (3) Ou seja, por causa de nossa intrincada conexão com a realidade objetiva que nos cerca, toda ação destrutiva, aviltadora dos recursos naturais ou do que é pertinente à vida alheia, cedo ou tarde, chegar-nos-á mediante seus funestos resultados.

Nesta lógica, a crise ambiental vigente é, sem sombra de dúvida, efeito de um racionalismo a serviço de uma lucratividade inconseqüente que, nas atitudes implementadas, tem desconsiderado esse princípio da sabedoria dos povos indígenas.

No entanto, uma consciência ambiental, se assim posso me exprimir, não pode ser forjada com a mera transmissão de informações, ela exige a construção de atitudes mais respeitosas com o ambiente, pede intervenções educativas que considerem os saberes ecológicos e que promovam a assunção dos educandos como sujeitos viventes num mundo com outros seres vivos, sabedores da responsabilidade advinda do reconhecimento de sua natureza espiritual e, da mesma forma, da finalidade educativa de sua estada temporária na Terra.

Outro aspecto que envolve a urgente temática da ecologia é que esta não pode esquecer em seus reclames o ser humano, não somente no sentido de formatar nova mentalidade junto dele, no que toca ao “amor ao verde”, mas também com a própria vida humana em sua complexa presença.

É de importância ímpar que levemos em conta a questão do cuidado com os nossos irmãos em humanidade, sobretudo aqueles a quem a pobreza lhes é impingida, expondo-os facilmente aos riscos da sórdida expansão do egoísmo globalizado.

São estes e estas que algemados ao problema ambiental da fome, da miséria, do trabalho escravo ainda existente, que precisam de uma definição nossa ou daqueles que se dizem cristãos na luta contra o egoísmo, “essa lepra que se deve atribuir o fato de não haver ainda o Cristianismo desempenhado por completo a sua missão.” (4)

Convidados por Cristo a edificarmos o Reino em nossa intimidade, meditemos, pois, nas proposições que nos permitem as reflexões espíritas sobre a temática ambiental, buscando fazer a nossa bestialidade destrutiva ceder à natureza espiritual que possuímos, propulsionadora de dias melhores na História de todos nós.

(1) O Livro dos Espíritos, questão 735.


(2) BRANDÃO, Carlos R. Em campo aberto: escritos sobre a educação e a cultura popular. São Paulo: Cortez, 1995, p. 223.

(3) LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2001, p. 30.

(4) O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XI, item 12.