terça-feira, 20 de abril de 2010

QUANDO CAI UM SOLDADO


Ao voltar do campo de lutas, recolhendo os bravos que sucumbiram, muitas reflexos nos visitam a alma afeita a estes embates e sempre identificamos que a queda, no mais das vezes, é fruto da solidão.

Os batedores do caminho, aqueles que vasculham e abrem trilhas para que seus predecessores avancem, os que olham o horizonte e tentam desvendar a presença do inimigo e suas estratégias, no afã de conduzir as fileiras em segurança, fazem trajeto solitário e contam apenas com o seu discernimento e capacidade de resistência.



Os companheiros que palmilham estradas, as mais das vezes, abertas por estes vanguardeiros, acomodam-se esquecidos de que lá, no front da luta eles guardam as mesmas fragilidades, medos  e inseguranças dos que marcham nas últimas formações.



São tão humanos e mortais, vulneráveis, ainda que dotados de coragem e iniciativa .



São os grandes esquecidos nos nossos contingentes. As suas horas de apreensão, de incertezas, as suas preocupações sequer são percebidas, porquanto vividas no retiro, distanciado dos seus cômpares, que lhes atribuem, por vezes, o galardão de heróis ou seres imbatíveis.



O longo tempo da espera pelo amigo que se faça presença incondicional, que ajude na vigilância dos acampamentos em que nos retemperamos da  marcha; o anseio pelo olhar fraterno que auxilie a perscrutar o horizonte e os sinais de perigo que se avizinham, provocam o sono comprometedor, quedando-se o batedor vencido e surpreendido pelas emboscadas do caminho.

Contemplá-lo vencido, sentimos o quanto contribuímos para a sua derrota.



A solidão dos líderes. Eis a porta mais vulnerável à investida dos que espreitam nas sombras para disseminarem o caos e impingir derrotas às falanges devotadas ao trabalho de edificação moral na Terra.



Lembremo-nos, todos, de que o mais perfeito dos homens que conhecemos escolheu não caminhar sozinho, ainda que em dados instantes, tenha se consorciado ao abandono, para poupar seus seguidores.



A solidão é enganosa. Provoca a ilusão de fortaleza e produz a sensação de autosuficiência.

No isolamento, a que relegamos os líderes, alimentamos o combustível da vaidade, esta filha dileta do orgulho. Aprofundamos o fosso da distância que passa a reger as relações entre líderes e liderados, uma vez que este contexto das vivências humanas ainda é deficitário no entendimento da humanidade.



Olha para o lutador que tombou e verás a ti mesmo, tantas vezes impotente para continuar, exausto quando todos te pensam gigante.

Recolhe teus bravos. Uma luta perdida não compromete a guerra perene contra as hostes do mal que se aninha em nós. A menos que entreguemos aos seus tentáculos os nossos contendores nas horas difíceis que
experimentarem.

Com fraternal apreço.
Sepé







(Psicografado no Hospital Espírita de Porto Alegre, por Maria Elisabeth Barbieri)