domingo, 10 de janeiro de 2010

APRECIAÇÃO DA OBRA A GÊNESE



(Paris, 18 de dezembro de 1867 – Médium: Sr. Desliens)

Esta obra vem na hora certa, na medida em que a doutrina está hoje bem estabelecida do ponto de vista moral e religioso. Seja qual for a direção que tome de agora em diante, tem precedentes muito arraigados no coração dos adeptos, para que ninguém possa temer que ela se desvie de seu caminho.


O que importava satisfazer antes de tudo, eram as aspirações da alma; era suprir o vazio deixado pela dúvida nas almas vacilantes em sua fé. Esta primeira missão hoje está cumprida. O Espiritismo entra atualmente em uma nova fase; ao atributo de consolador, alia o de instrutor e diretor do espírito, em ciência e em filosofia, como em moralidade. A caridade, sua base inabalável, dele fez o laço das almas ternas; a Ciência, a solidariedade, a progressão, o espírito liberal dele farão o traço de união das almas fortes.


Conquistou os corações que amam com armas de doçura; hoje viril, é às inteligências viris que se dirige. Materialistas, positivistas, todos os que, por um motivo qualquer, se afastaram de uma espiritualidade cujas imperfeições suas inteligências lhes mostravam, nele vão encontrar novos alimentos para sua insaciabilidade. A Ciência é sua senhora, mas uma descoberta chama outra, e o homem avança sem cessar com ela, de desejo em desejo, sem encontrar completa satisfação. É que o Espírito também tem suas necessidades; é que a alma mais ateísta tem aspirações secretas, inconfessadas, e que essas aspirações reclamam seu alimento.


A religião, antagonista da Ciência, respondia pelo mistério a todas as questões da filosofia céptica. Ela violava as leis da Natureza e as adaptava à sua fantasia, para daí extrair uma explicação incoerente de seus ensinamentos. Vós, ao contrário, vos sacrificais à Ciência; aceitais todos os seus ensinamentos sem exceção e lhe abris horizontes que ela supunha intransponíveis. Tal será o efeito desta nova obra; não poderá senão assegurar mais os fundamentos da crença espírita nos corações que já a possuem, e fará dar um passo à frente para a unidade a todos os dissidentes, à exceção, entretanto, dos que o são por interesse ou por amorpróprio; esses o vêem com despeito sobre bases cada vez mais inabaláveis, que os lançam para trás e os rechaçam na sombra. Só havia pouco ou nenhum terreno comum onde se pudessem encontrar. Hoje, o materialismo vos acotovela por toda parte, porque estando em seu terreno, não estareis menos no vosso, e ele não poderá fazer outra coisa senão aprender a conhecer os hóspedes que lhe traz a filosofia espírita. É um instrumento de duplo efeito: uma sapa, uma mina que ainda derruba algumas ruínas do passado, uma colher de pedreiro que edifica para o futuro.


A questão de origem que se prende à Gênese é para todos uma questão apaixonada. Um livro escrito sobre esta matéria deve, em conseqüência, interessar a todos os espíritos sérios. Por esse livro, como vos disse, o Espiritismo entra numa nova fase e esta preparará as vias da fase que mais tarde se abrirá, porque cada coisa deve vir a seu tempo. Antecipar o momento propício é tão prejudicial quanto deixá-lo escapar.

São Luís


(Revista Espírita, fevereiro de 1869)