Foto: Borboleta em SJN - Vinícius
Vinícius Lousada - vlousada@hotmail.com
“Em que se torna a alma no instante da morte?
Volta a ser Espírito, isto é, retorna ao mundo dos Espíritos, que havia deixado momentaneamente.”
O mistério da morte há muito ocupa o imaginário da humanidade. Desde tempos imemoriais, os povos lidam com a sua presença das mais diferentes e criativas maneiras.
Do medo à acolhida da figura da morte, viaja a concepção mitológica desse fenômeno que obedece ao automatismo natural da entropia, da dispersão da energia dos corpos para colaborar com outras formas de manifestação da vida.
Na atualidade, erguem-se, como sempre se fez, doutrinas absurdas apresentando uma visão distorcida do pós-morte em função de interesses amesquinhados da comercialização da fé.
Por outro lado, insiste o paradigma materialista, com o aval da racionalização científica – entenda-se racionalização por um desvio da racionalidade –, em afirmar a morte como o fim e a dimensão espiritual do ser humano como uma produção do cérebro.
Nesse campo de batalha das idéias transita o indivíduo numa pós-modernidade sem referências, temendo a morte ou encastelando-se na indiferença, ignorando os aspectos mais transcendentes da vida vindo a iludir-se quanto ao seu significado profundo.
O medo da morte, da sua ou do outro, vai sofrendo tentativas de abafamento na entrega desnorteada ao prazer e às disputas pelas conquistas impermanentes.
O indivíduo da era da informação, que avançou no conhecimento do universo das micro-partículas e, ao mesmo tempo, foi capaz de decifrar o genoma humano e mapear o território cerebral, anda no mundo desconhecendo a sua própria natureza espiritual, inconsciente da sua imortalidade.
Naturalmente, não têm faltado pesquisadores sérios – como Kübler Ross, Moody Jr., por exemplo -, pensadores, místicos, religiosos e médiuns que se fazem portadores do recado da continuidade da vida após a degeneração do corpo biológico.
Mas, seduzidos pelo materialismo, muitos se fazem surdos ou, na sua míope arrogância, dão-lhes descréditos sem conhecerem as suas produções a respeito de palpitante e necessário tema.
Contudo, há 150 anos, o Espiritismo tem oferecido um entendimento diferenciado da morte. Segundo o relato dos Espíritos, colhidos por Allan Kardec utilizando-se da metodologia da concordância universal, e os fatos que nos são apresentados todos os dias, através do fenômeno mediúnico, a morte não é o fim da existência, mas um retorno do ser ao mundo dos Espíritos.
A realidade insofismável da comunicabilidade dos Espíritos, vivenciada por muita gente na intimidade de sua vida particular, estudada por diversos sábios no passado, experimentada como sobrenatural na religião tradicional e verificada nas reuniões mediúnicas, nas sociedades espíritas, conjuga uma infinidade de fatos que não dão margem à dúvida sobre a imortalidade da alma.
A Filosofia dos Espíritos aclara-nos, ainda, que são diversos os estados psicológicos dos desencarnados na erraticidade, estando cada qual a transitar na faixa de felicidade ou tormento edificada em estreito vínculo com as virtudes adquiridas ou imperfeições não superadas até então.
Cada um, cultivando a faixa mental a que se afeiçoa na manutenção da própria evolução ou no condicionamento aos hábitos infelizes, se agrega por sintonia a comunidades espirituais erigidas pelo poder plasmador do pensamento dos indivíduos e das coletividades.
Através do conhecimento espírita, haurido no estudo das obras de Allan Kardec e nas que lhe são posteriores, o sujeito pode munir-se da consciência de sua imortalidade.
Entretanto, devemos atentar para um detalhe: a consciência da imortalidade não se traduz em mera informação e tampouco o Espiritismo é o único caminho para tanto.
Existem pessoas que memorizam sentenças morais descuidadas do dever de vivê-las. Logo, a simples leitura de Kardec não basta. É preciso meditar sobre os enunciados, buscar reflexivamente a aplicação no roteiro de desenvolvimento pessoal .
Também, ante a diversidade religiosa presente em nossa civilização planetária, não podemos ignorar que são vários os caminhos de espiritualização das criaturas, e muitos deles, têm dado conta do dever de conscientizar os sujeitos a respeito da impermanência dos laços que prendem o ser à matéria.
A consciência autêntica da imortalidade nasce da junção entre o conhecimento espiritual sobre a vida além da morte e a busca da vivência integral do bem.
O atestado de consciência da imortalidade consiste num modo-de-ser de quem se sabe em trânsito, num estar no mundo e com os outros de forma suave, transcendente ao terra-a-terra.
Cônscio da sua imortalidade, o Espírito reencarnado é capaz de contemplar a sua própria incompletude e, portanto, fazer-se aberto ao inusitado, ao que vem de novo no retorno à pátria maior que a morte do corpo faculta.
Caso tenha vivido no bem, goza hoje do “céu interior”, sente as primícias do “nirvana” no próprio âmago e aguarda, numa espera serena a própria libertação da conexão com a carne porque sabe que o que lhe aguarda na vida futura é fruto do que tem plantado ao longo de sua breve passagem terrena.
Quanto à morte dos seus, o sujeito, consciente da imortalidade, compreende que há tempo para tudo e que a desencarnação do seu afeto anuncia um tempo de despedida que vem acompanhada de saudade.
Do mesmo modo, entende que em breve haverá tempo para rever o outro, amenizar a saudade e abraçá-lo seja aqui ou noutro lado da vida.